“Fazendo o impossível”: o sobre-esforço juvenil diante das desigualdades e a potência dos cursinhos populares

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Daniella Almeida Pereira
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Minas Gerais
Brasil
FAE - FACULDADE DE EDUCAÇÃO
Programa de Pós-Graduação em Educação e Docência
UFMG
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/1843/38252
Resumo: O Ensino Superior no Brasil é caracterizado por iniquidades no acesso e por desigualdades horizontais. No entanto, essas dificuldades costumam ser ocultadas e equivocadamente reduzidas ao sucesso individual decorrente apenas do esforço. Apesar do peso da origem social, as classes populares têm buscado a longevidade escolar e contam com os cursinhos populares para ingressarem na universidade, especialmente através do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Tendo em vista tal realidade em um cenário de pandemia de Covid-19, em que as disparidades sociais ficaram ainda mais evidenciadas, buscou-se conhecer as experiências e trajetórias juvenis tendo como fio condutor a preparação para o ingresso no Ensino Superior. A pesquisa objetivou compreender as vivências de jovens estudantes de cursinhos populares preparatórios para o Enem em um contexto de crescentes desigualdades sociais e de pandemia; ainda, compreender o papel desses cursinhos no processo de democratização da educação. Para tanto, foram realizados grupos de discussão, de modo remoto, com jovens de dois cursinhos populares de Belo Horizonte. A partir das discussões e do acompanhamento das ações dos cursinhos, identificou-se como essas iniciativas transformam o anseio pelo Ensino Superior em possibilidade real de acesso, pois ofertam uma escolarização compensatória, minimizam a desistência desse projeto e, no contexto da pandemia, oferecem uma rede de apoio supraeducacional aos estudantes. Os cursinhos populares diferenciam-se dos preparatórios convencionais pela atuação política ao oferecerem um espaço de reflexão e crítica sobre temáticas sociais. Buscou-se fortalecer esse processo de politização através do recurso educacional desenvolvido: a plataforma “Colabora.qui” se apresenta como um espaço de troca de experiências e de planos de aula entre professores de cursinhos populares. Na pesquisa, identificou-se também os sobre-esforços empenhados pelos jovens, devido a sua classe social, para estudarem e realizarem o Enem. A pandemia acresceu empecilhos a esse processo de preparação para o exame, desde as limitações no acesso à internet até os desafios relacionados à saúde mental. Também ressaltou problemas que acompanham a juventude brasileira há tempos, como a informalidade trabalhista. A escolarização básica deficitária figurou como um dos principais empecilhos à longevidade escolar, já que ultrapassa os aspectos do acesso aos conteúdos escolares, afetando também as habilidades de organização autônoma dos estudos e a formulação de projetos de futuro. A família, junto aos cursinhos, foi citada como forte contribuinte para o prosseguimento desses projetos, que muitas vezes precisam ser ajustados devido ao cenário de imprevisibilidade. Ainda, as marcas das desigualdades sociais apareceram na escolha das carreiras, nas expectativas em relação à vivência na universidade e no reconhecimento, por parte dos próprios jovens, dos sacrifícios despendidos para a continuidade dos estudos. No entanto, com o trabalho desenvolvido nos cursinhos, de modo geral, os jovens se afirmaram sujeitos de direito e demonstraram uma visão crítica acerca dos processos seletivos e da iniquidade que marca a sociedade brasileira, lutando para ocuparem o espaço universitário e com perspectivas de atuação solidárias.