Compreendemos “pintar o sete” e “pintar o quadro” da mesma forma? Um estudo experimental sobre o processamento de expressões idiomáticas no PB

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Barreto, Sara lattes
Orientador(a): Marcilese, Mercedes lattes
Banca de defesa: Nogueira, Elisângela Teixeira lattes, El-Jaick, Ana Paula Grillo lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Letras: Linguística
Departamento: Faculdade de Letras
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/5392
Resumo: Esta dissertação investiga a compreensão de expressões idiomáticas do tipo verbo + complemento no português brasileiro (PB) (Ex. pintar o sete, passar a bola). Na literatura psicolinguística, identificamos diferentes abordagens relativas à representação, ao acesso e ao processamento de expressões idiomáticas. Segundo modelos de acesso direto, expressões seriam compreendidas a partir da recuperação de seu sentido plenamente disponível no léxico (GIBBS, 1980, 1985, 1986), enquanto outras abordagens pontuam que o acesso ocorra de forma indireta ou mediada (BOBROW & BELL, 1973; WEINREICH, 1969). Há, ainda, propostas que defendem a ocorrência do acesso em paralelo dos sentidos literal e figurado (ESTILL & KEMPER, 1982; SWINNEY & CUTLER, 1979), bem como visões que enfatizam a relevância de se atentar para certas propriedades internas e externas das expressões idiomáticas (Ex. grau de composicionalidade e de cristalização da expressão e contexto discursivo prévio) para uma melhor compreensão do modo como as mesmas seriam processadas (GIORA, 1997, 1999; BOWDLE & GENTNER, 2005). Nossa pesquisa está alinhada com esse último tipo de visão que questiona a possibilidade de uma abordagem categórica que possa dar conta do processamento de toda e qualquer expressão sem levar em consideração aspectos específicos envolvidos em cada caso. Expressões idiomáticas são tipicamente caracterizadas como combinações fixas e não composicionais nas quais o sentido idiomático não constitui uma função da soma das partes. O grau de decomponibilidade das mesmas, entretanto, é variável (GIBBS, 1989): em alguns casos, as partes colaboram na construção do sentido figurado, em outras, essa contribuição não é clara. Em expressões como passar a bola, por exemplo, percebe-se uma maior decomponibilidade do que em dar zebra ou em pintar o sete. Assumimos nesta pesquisa que haveria, assim, um espectro de idiomaticidade. Este trabalho pretende explorar em que medida o grau de idiomaticidade afeta a compreensão das expressões. Buscamos ainda investigar o papel da familiaridade do falante com a expressão e do contexto prévio em que as expressões aparecem e avaliar até que ponto esses fatores interagem entre si no processamento. Foram conduzidos dois experimentos visando a investigar essas questões. No Experimento 1 foi utilizada uma tarefa de maze (leitura automonitorada em forma de “labirinto”) na qual o segmento crítico era relativo à complementação do verbo: complemento idiomático vs. literal (Ex. abrir o coração/a porta). O Experimento 2, inspirado no estudo de Cacciari e Tabossi (1988), foi idealizado a partir do paradigma de priming intermodal (cross-modal priming), por meio de uma tarefa de decisão lexical em que a palavra alvo poderia ser relacionada idiomaticamente, literalmente ou não relacionada à expressão idiomática (Ex. passar a bola – palavra alvo: responsabilidade – futebolista – helicóptero). Tomados em conjunto, os resultados obtidos revelaram efeitos estatisticamente significativos das três variáveis investigadas, sugerindo que o grau de idiomaticidade, a familiaridade do falante com a expressão e o contexto prévio afetam o processamento das expressões e, portanto, devem ser considerados num modelo que vise a explicitar a representação, o acesso e a compreensão dessas estruturas.