Curtindo a presença de Deus: religião, lazer e consumo entre crentes e canções

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Costa, Waldney de Souza Rodrigues lattes
Orientador(a): Silveira, Emerson José Sena da lattes
Banca de defesa: Lima, Marcelo Ayres Camurça lattes, Huff Júnior, Arnaldo Érico lattes, Castro, Nina Gabriela Moreira Braga Rosas de lattes, Rivera, Dario Paulo Barrera lattes
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Ciência da Religião
Departamento: ICH – Instituto de Ciências Humanas
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/14067
Resumo: Todo dia, brasileiros de várias regiões expressam sua fé com as mesmas canções. São pessoas que se reconhecem como crentes e são reconhecidas publicamente como evangélicos, apesar de filiadas a diferentes igrejas. E são canções reconhecidas como gospel e dispersas por CDs e DVDs, programas de rádio e TV, vídeos na internet, shows e cultos, nas igrejas ou nas próprias residências dos crentes, conjugando, a um só tempo, religião, lazer e consumo. Essa tese é uma interpretação das circunstâncias em que isso acontece, escrita com o intuito de contribuir tanto com a Religiologia ou Ciência(s) da(s) Religião(ões), ao pesquisar como canções se tornam religião, quanto com a Antropologia, ao perguntar o que significa ser crente no Brasil. Enfrentei essas questões com etnografia multissituada em duas etapas. Primeiro seguindo pessoas – os crentes –, depois, seguindo coisas – as canções –, mas com foco naquelas reconhecidas por eles como “louvor e adoração”. Na primeira etapa, tomei uma igreja como referência e, a partir dela, segui alguns jovens por diferentes espaços, incluindo lanchonetes, pequenas viagens, shows e eventos diversos. Na segunda, usei alguns relatos autobiográficos de compositores reconhecidos como “verdadeiros adoradores” como uma espécie de mapa dos espaços por onde circulam as canções, nos quais eu pude fazer incursões em observação participante, o que incluiu empresas, lojas, shows, ensaios, cultos e um internato de nove dias em uma “escola de adoração”. A partir dessas experiências e do recurso teórico à diferença entre fé e tradição de Wilfred Cantwell Smith combinada com abordagens próprias da chamada Religião Material, foi possível perceber que canções se tornam religião fugindo ao controle imediato das instituições propriamente religiosas. Compreendendo que fé não se resume ao que acontece em igrejas, assim como lazer é algo que excede o que ocorre no tempo-livre e o consumo não depende exclusivamente de compras – suas formas institucionais modernas –, vi que instituições do lazer e do consumo permitem que expressões de fé circulem à revelia das igrejas, gerando duas versões da mesma religião. Paralelo ao mundo das denominações, em que cada uma sistematiza a seu modo um estoque de expressões de fé, surge o circuito evangélico, em que os estoques se dispersam por outros espaços institucionais, entrando em liquidação. Um multiverso com conexões nem sempre pacíficas entre os dois mundos. Quem quiser entender o que significa ser crente no Brasil precisa levá-las em consideração. É nelas que a experiência que os adoradores tanto anseiam, o “estar na presença de Deus”, ganha conotações de religião, lazer e consumo, tornando a adoração, simultaneamente, “estilo de vida” e “estilo musical”. Ademais, brasileiros que se encontram nos estratos mais baixos têm encontrado nela um recurso na batalha por uma vida melhor. Eles mantêm uma expectativa positiva diante do sofrimento de rotina, cantando em meio à dor. Curtindo a presença de Deus.