Fatores bioquímicos, genéticos e clínicos implicados no déficit estatural de crianças e adolescentes com anemia falciforme

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Costa Júnior, Domício Antônio da lattes
Orientador(a): Rodrigues, Cibele Velloso lattes
Banca de defesa: Luizon, Marcelo Rizzatti lattes, Moura Neto, José Pereira de lattes, Rodrigues, Tânia Maria Barreto lattes, Marco, Silmara Paula Gouvea de lattes
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Multicêntrico de Pós-Graduação em Bioquímica e Biologia Molecular
Departamento: ICV - Instituto de Ciências da Vida
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/16698
Resumo: A anemia falciforme (AF) é caracterizada pela herança em homozigose de uma mutação pontual na cadeia β da hemoglobina (Hb) formando uma Hb anormal denominada HbS. A doença se caracteriza por episódios de hemólise e vaso-oclusão desencadeados pela desoxigenação da HbS e cursa com graus variáveis de disfunções orgânicas, que podem comprometer múltiplos órgãos e afetar o crescimento estatural e o eixo GH/IGF-1 (hormônio do crescimento/fator de crescimento semelhante à insulina 1). A gravidade da disfunção orgânica na AF é influenciada por fatores modificadores, que podem ser genéticos, incluindo variantes alélicas associadas aos níveis de hemoglobina fetal (HbF) e co-herança da alfatalassemia, ou não genéticos, como o tratamento com hidroxiureia (HU). Por outro lado, fatores genéticos também poderiam influenciar a estatura de indivíduos com AF, dado que estudos com gêmeos estimam a herdabilidade da estatura em 90%. Objetivos: Avaliar estatura, maturação óssea e eixo GH/IGF-1, testar associação com parâmetros laboratoriais e clínicos, fatores modificadores e genótipos do polimorfismo no gene ZBTB38 (rs724016) em crianças e adolescentes com AF. Métodos: Estudo transversal com indivíduos com AF, de ambos os sexos e idade variando de 3 a 20 anos acompanhados no Hemocentro de Governador Valadares da Fundação Hemominas entre agosto de 2018 a julho de 2019. Avaliamos dados clínicos coletados de avaliação presencial, marcadores laboratoriais coletados de prontuários médicos, idade óssea (IO), níveis séricos de IGF-1 e IGFBP-3, estatura alvo (EA) calculada pela média do escore Z (EZ) da estatura dos pais, EZ da previsão de estatura adulta (PEA) calculada com uso da IO. Definimos o potencial de crescimento ajustado como a EA subtraída da PEA. Além disso, foram realizadas genotipagens de alfa-talassemia delecional e do polimorfismo rs724016. Resultados e conclusões: Avaliamos 80 indivíduos com AF, 53% (43/80) do sexo masculino, 50% (40/80) sob tratamento com HU, 50,6% (40/79) pré-pubere, 14,1% (11/78) com co-herança de alfa-talassemia e 15% (12/80) com baixa estatura. Em avaliação multivariada, o tratamento com HU foi associado com maiores níveis séricos de IGF-1 e IGFBP-3. A presença de alfatalassemia foi associada a menores níveis de IGF-1. Níveis elevados de HbF foram associados a menor déficit no potencial de crescimento ajustado (EA-PEA). A variante G do rs724016 foi associada com menor EZ da estatura (p<0,001, modelo recessivo), em um sentido de efeito diferente de outros estudos com crianças sem AF ou outra 6 doença identificada. Adicionalmente, a variante G do rs724016, em um modelo genético dominante, associou-se negativamente com os níveis de HbF (p=0,016), que devem ser relevantes para o crescimento. Foi criado um modelo da relação entre a variante rs724016 e o eixo GH/IGF-1 e níveis de HbF. Concluímos que a terapia com HU contribui significativamente para o equilíbrio do eixo GH/IGF-1. Além disso, mostramos que a presença da variante rs724016 do ZBTB38 no genótipo implica em menor estatura e menor nível de HbF. Por outro lado, a co-herança de alfa-talassemia impacta negativamente esse eixo. Este estudo contribui com novos achados em relação ao desenvolvimento estatural de crianças/adolescentes com AF e abre perspectivas para esclarecer a intrincada relação entre os principais fatores moduladores da AF conhecidos: níveis de HbF e alfa-talassemia.