Romances de viagem: políticas e poéticas da mobilidade contemporânea na coleção literária Amores Expressos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Fois-Braga, Humberto lattes
Orientador(a): Gonçalves, Ana Beatriz Rodrigues lattes
Banca de defesa: Carrizo, Silvina Liliana lattes, Faria, Alexandre Graça lattes, Vieira, Else Ribeiro Pires lattes, Chiarelli, Stefania Rota lattes
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Letras: Estudos Literários
Departamento: Faculdade de Letras
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/4586
Resumo: A partir de um estudo transdisciplinar, a presente tese analisa como o projeto multimídia Amores Expressos (RT Features, Academia de Filmes e Companhia das Letras) constrói uma coleção literária fundada nas narrativas de viagem, cuja problemática da mobilidade contemporânea é o leitmotiv que aglutina os dez romances vindos a público. Mais especificamente, busca analisar o discurso das viagens internacionais que estrutura os planos do enunciado e da enunciação dessas obras colecionáveis, estipulando um arco políticopoético da motilidade para os personagens, esses estrangeiros cujos deslocamentos apontam para um anti-bildungsroman. A partir dos estudos estruturalistas e genealógicos a respeito das coleções literárias - que nos possibilita compreender a “estética da interrupção” como um fator de identificação dos volumes –, e da constituição de três topoï considerados argumentos de uma literatura de viagem – i. o tempo-espaço da mobilidade; ii. motivações e consequências da viagem; iii. o corpo lá(r) do estrangeiro e suas relações de hostipitalidade com os demais personagens arquetípicos da viagem – , a pesquisa elabora uma literatura comparada entre as obras Amores Expressos. Como resultado das análises, percebemos que os autores e suas obras constituem um campo de força na coleção: Cordilheira, O filho da mãe, Do fundo do poço se vê a Lua, O único final feliz para uma história de amor é um acidente, O livro de Praga e Estive em Lisboa e lembrei de você, esse último romance ainda que bem mediano nas avaliações, compõem uma “alta-coleção”, enquanto Barreira, Digam ao Satã que o recado foi entendido, Ithaca Road e Nunca vai embora formam o subcampo da “baixacoleção” Amores Expressos. Através da análise do arco da mobilidade de dezessete personagens, vemos que essa alta-coleção é a das viagens femininas e homossexuais, apresentando alta motilidade, com indisposições na partida e finais trágicos. Por seu turno, a baixa-coleção é das viagens masculinas e heterossexuais, com mobilidades linearmente simples, cujos sujeitos também partem desmotivados, tendo como desfecho principal a retenção dos estrangeiros em seus locais de chegada. E, até o momento, sendo uma coletânea composta somente por homens escritores, isso gerou algumas características bastante específicas para as narrativas de viagem, sendo elas sintetizadas no mito cristão de Adão e Eva e de suas expulsões do Paraíso: a mulher inconsequente que prejudica os homens; o banimento e a mobilidade que veio a reboque como sendo um castigo; a consumação do fruto proibido como ato de independência que desagrada a divindade. Ser estrangeiro é uma condenação, pois os sujeitos fora dos padrões familiares tradicionais são expulsos de casa, punidos com o deslocamento e com as mazelas derivadas (i.e. morte, desaparecimento, retenções, desilusões, fugas à deriva). Antes de tudo, os viajantes são pecadores incapazes de voltar para casa; e a coleção utiliza os argumentos das viagens para poder descontruí-las, sugerindo que a mobilidade é para aqueles que estão com problemas e condenados: famílias mononucleares e patriarcais, aparentemente, são bem-aventurados em suas sedentariedades, não precisando de viajar para encontrar o pote da felicidade no final do arco-íris da jornada. Finalmente, pudemos sugerir que a referida coletânea existe muito mais no circuito midiático que a promove do que na materialidade dos livros e no hábito de leitura dos consumidores, que não parecem interessados em ler todos os volumes e, consequentemente, não se constituem como colecionadores.