Seja DIFERant: etnomirmecologia e perspectivas agroecológicas no controle de formigas cortadeiras

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Novato, Thiago da Silva lattes
Orientador(a): Santos Lopes, Juliane Floriano lattes
Banca de defesa: Ribas , Carla Rodrigues lattes, Teixeira, Reinaldo Duque Brasil Landulfo lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas: Comportamento e Biologia Animal
Departamento: ICB – Instituto de Ciências Biológicas
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/11752
Resumo: As representações ambientais de camponeses integrantes de movimentos sociais rurais em relação às formigas cortadeiras (Atta e Acromyrmex) podem estar relacionadas com sua particular familiaridade e formação em agroecologia, implicando diretamente sobre o tipo de método de controle utilizado para reduzir prejuízos agrícolas provocados por esses insetos. Visto que a agroecologia valoriza os saberes populares e que é extremamente necessário que esses conhecimentos sejam reconhecidos, o presente estudo objetivou: (i) investigar a relação entre o perfil socioeconômico e do conhecimento agroecológico dos camponeses do Assentamento Dênis Gonçalves (ADG), Goianá/MG com as representações ambientais e práticas de controle de formigas cortadeiras; (ii) avaliar, sob condições laboratoriais, o potencial repelente dos extratos urina de vaca à 10%, isopatia e homeopatia de formigas em Acromyrmex subterraneus (Forel, 1893). Informações sobre a caracterização socioeconômica, do conhecimento agroecológico e sobre os métodos de controle utilizados para o controle de formigas cortadeiras foram registradas em entrevistas semiestruturadas com 80 camponeses entre setembro e dezembro de 2018. Por meio de uma Análise de Correspondência Múltipla (MCA), identificamos uma semelhança entre os perfis de camponeses com mais de 54 anos que nunca estudaram, independentemente do gênero, que relataram não conhecer o termo agroecologia e apresentaram uma representação ambiental negativa sobre a função das formigas no ambiente com o uso iscas químicas como um método de controle. Outra semelhança foi verificada entre os perfis de camponeses mais jovens, que conhecem o termo agroecologia, tiveram acesso à educação, atribuem funções ecológicas positivas para formigas no ambiente e utilizam métodos de controle agroecológico. Posteriormente, realizaram-se dois ensaios experimentais das técnicas agroecológicas mais utilizadas pelos camponeses, ambos analisados através de Modelos Lineares Generalizados Mistos (GLMM). No primeiro, para avaliar se os extratos promovem diminuição no fluxo total de operárias de A. subterraneus, colônias foram submetidas a forrageamento em uma trilha de plástico demarcada com três segmentos (PréBarreira, Barreira e Pós-Barreira, respectivamente), onde no ponto barreira foram aplicados 30 mL dos referidos extratos, contabilizando-se o fluxo total das operárias na rota superior e lateral da trilha em cada segmento durante 1min, a cada 5 min, durante 1h. Observou-se um desvio no fluxo total no segmento barreira para todos os extratos aplicados, que se concentrou na rota lateral, diferente do ocorrido para os demais segmentos, onde o fluxo total de operárias se concentrou sempre na rota superior da trilha para todos os tratamentos. Também foi possível constatar uma menor proporção de folhas transportadas nas trilhas com a aplicação da isopatia. Já no segundo ensaio, com o objetivo de avaliar o efeito da aplicação dos extratos na seleção de folhas pelas operárias, adotou-se o sistema de trilha em Y com ramos conectados a uma arena retangular contendo 50 discos foliares, de forma que discos foliares com extratos diferentes ou sem extratos fossem oferecidos simultaneamente. Verificou-se uma menor proporção de discos carregados pelas operárias contendo extratos de urina de vaca e isopatia. Concluímos que a escolaridade, idade e acesso ao conhecimento agroecológico são variáveis que podem influenciar as diferentes percepções e ações em relação aos métodos de controle utilizados no ADG. A isopatia e urina de vaca foram os métodos mais eficientes na repelência de A. subterraneus. Atribui-se a efetividade da isopatia à possíveis feromônios de alarme presentes em sua composição. Já na urina de vaca, o odor pode ser o principal agente causador de repelência nas formigas, já que estas apresentam alta sensibilidade à odores químicos. A riqueza e complexidade dos saberes locais aqui retratados reforçam como a Agroecologia pode ser uma poderosa aliada na promoção de uma agricultura ambientalmente sustentável.