Hoje é dia de branco: a branquitude de médicos de família de Juiz de Fora/MG e a equidade racial no cuidado em saúde

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Campos, Marcelo dos Santos lattes
Orientador(a): Silva, Girlene Alves da lattes
Banca de defesa: Schucman, Lia Vainer lattes, Oliveira, Julvan Moreira de lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva
Departamento: Faculdade de Medicina
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
SUS
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/11754
Resumo: A partir de estudos que comprovam as desigualdades e iniquidades raciais em saúde produzidas pelo racismo estrutural e institucionalizado na sociedade brasileira, do poder socialmente atribuído ao médico na produção do cuidado em saúde e das implicações que a identidade dos sujeitos brancos tem na produção e manutenção do racismo e dos privilégios materiais e simbólicos que sustentam a supremacia racial branca, este trabalho teve como objeto de pesquisa a branquitude dos médicos de família na relação com os sujeitos negros por eles assistidos. De natureza qualitativa e exploratória, esta pesquisa teve como objetivo analisar a branquitude de médicos de família de Juiz de Fora (MG) e verificar se/como tal identidade influencia na promoção da equidade e/ou iniquidade racial em saúde. O trabalho foi construído de março de 2018 a setembro de 2019, a partir dos pressupostos das teorias das relações raciais, entre as quais os Estudos Críticos da Branquitude, inflexão fundamental por teorizar a identidade racial branca. Assentou-se também nos estudos sobre cuidado, equidade e determinações sociais em saúde quanto à compreensão do SUS em seu caráter de política social e à Política Nacional de Saúde Integral da População Negra de 2009, que objetiva a equidade racial em saúde no Brasil. Doze médicos de família fenotipicamente brancos em atuação na Estratégia de Saúde da Família do município de Juiz de Fora (MG) foram entrevistados a partir de entrevistas semiestruturadas. Utilizou-se a análise de conteúdo temático proposto por Bardin, da qual emergiram as seguintes categorias: cuidado em saúde; equidade em saúde e a dimensão racial na equidade em saúde. Os achados demonstram que a maioria dos médicos de família participantes desta pesquisa foi socializada em universos majoritariamente brancos; sua compreensão e prática de cuidado buscam romper com o modelo tecnicista biomédico; apresenta percepção da equidade pelo senso de justiça, entretanto exerce práticas equitativas a partir de avaliações majoritariamente clínicas para priorização de atendimento; confirma total invisibilidade e ausência de discussão da questão racial nos currículos do curso de medicina, ideologicamente branco e biologicista; pouco valoriza o critério raça/cor dos formulários do SUS; apresenta uma visão pouco reflexiva e reducionista das determinações sociais em saúde da população negra à ordem econômica; reproduz tendência de objetificação do negro, não reconhece a identidade branca como racializada e não promove práticas de equidade racial em saúde. Os participantes que passaram por educação permanente que abordou a questão racial demonstraram compreender o racismo como condicionante para vulnerabilidade e adoecimento dos negros, confirmando a importância da criação de espaços educativos sobre a temática, com vistas ao processo de desconstrução do racismo.