O feitiço do jogo: sociabilidade entre homens no Parque Halfeld de Juiz de Fora

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Silva, William Assis da lattes
Orientador(a): Oliveira, Marcella Beraldo de lattes
Banca de defesa: Debert, Guita Grin lattes, Dutra, Rogeria Campos de Almeida lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais
Departamento: ICH – Instituto de Ciências Humanas
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/6582
Resumo: O presente trabalho tem como intuito refletir, antropologicamente, sobre os temas da masculinidade, da velhice e dos aspectos característicos do jogar, baseando-se em uma etnografia realizada em um território de sociabilidade entre homens, preponderantemente velhos, que se reúnem diariamente para a prática de jogos de cartas no Parque Halfeld, localizado no centro da cidade de Juiz de Fora. Busco, primeiramente, tratar temas relativos à etnografia, a partir de minha inserção em campo, a fim de mostrar os caminhos percorridos durante o trabalho, relacionando as percepções iniciais sobre objeto e as desconstruções advindas do processo de descoberta do território dos jogos. A palavra “feitiço” utilizada no título e no decorrer do texto, refere-se à intensidade da forma como o jogo cativa o jogador, a ponto de constituir um “mundo artificial”, diferente da seriedade exigida na vida cotidiana, resultando em uma sociabilidade em que o conteúdo do jogo e os jogos sociais, construídos a partir dele, são os grandes motivadores. Para além do jogo propriamente dito, o feitiço só se realiza plenamente juntamente ao jogo social das relações jocosas. Com provocações verbais e performances corporais de indecência e grosseria, mediadas por um “saber brincar”, canalizam os estresses cotidianos através de tais conflitos jocosos que implicam na combinação entre uma pretensão de hostilidade e real amistosidade. É também de forma jocosa que temas como a velhice e a masculinidade são colocados em jogo, sem que precisem ser levados a sério. Embora seja um território ocupado preponderantemente por homens com mais de sessenta anos, os discursos e práticas de jogadores e espectadores encontrados em campo demonstram uma não identificação com as categorias “velho” e “idoso”, que aparecem associadas a uma série de características negativas atribuídas a velhice. Sendo uma sociabilidade masculina intrassexual, as experiências encontradas em campo e a frase “vê se vira homem” ilustram uma constante (re)construção da masculinidade a partir de gestos e discursos que visam atribuir características femininas a um homem em busca de desqualificá-lo perante os outros, colocando em jogo a masculinidade do acusado mediante a homofobia. Tratando do tema da sexualidade na velhice, à despeito das expectativas de gerontólogos, que sugerem que se busque novas zonas erógenas, o interesse sexual de jogadores e espectadores aparecem ainda fortemente associados ao modelo hegemônico de masculinidade que confere intensa valorização à penetração e ao desempenho erétil.