Os “diários” ou cadernos in-quarto de Franz Kafka: rascunhos de um mundo em ruínas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Oliveira, Laís Maria de lattes
Orientador(a): Pires, André Monteiro Guimarães Dias lattes
Banca de defesa: Durão, Fabio Akcelrud lattes, Faria, Renato Oliveira de lattes, Lugão, Juliana Serôa da Motta lattes, Almeida, Jorge Mattos Brito de lattes
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Letras: Estudos Literários
Departamento: Faculdade de Letras
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/18002
Resumo: Este ensaio/tese busca refletir como os cadernos in-quarto, conhecidos como diários, do escritor Franz Kafka, se configuram como parte de seu conjunto estético, ou seja, enquanto literatura. Ao comparar esses cadernos com outras narrativas do autor, encontrei muitos e diferentes procedimentos de escrita, tanto no que diz respeito à forma quanto ao conteúdo, que se repetem e dialogam. A escrita de Kafka parece borrar ou rascunhar, procedimento que lhe era caro, as fronteiras entre observação e vislumbre, descrição e invenção, experiência e criação, vida e literatura. Essa literatura, ao desafiar o status quo, desvelando a ruína de um mundo, arruína também a tradição literário-textual, ao colocar em xeque gêneros, características, classificações e categorias de textos literários. Assim, percebendo quantas ruínas a escrita kafkiana permite ver, sociais, e portanto familiares, pessoais, literárias, me ative principalmente naquilo que a escrita dos cadernos in-quarto mais repetia: trabalho, mulheres, a discussão das línguas e literaturas menores, patriarcado, família, judaísmo, a literatura de outros escritores, doença, a relação com a escrita e a impotência do sujeito diante do mundo. Kafka manipula esses temas por diversos fragmentos nos cadernos e também em suas outras obras, percebendo que algo que lhe ocorre cotidianamente não é algo extraordinário ou meramente particular, mas resultado de uma gama de situações que estão amarradas por uma mesma totalidade. Kafka escreve contra a escrita, desfazendo hierarquias e sistemas, ao escrever textos que não se encaixam em termos, manipulando uma linguagem que é ao mesmo tempo, prosa e poesia, relatório e ensaio, enfim, literatura qualquer que seja a forma. A escrita é posta em xeque porque o escritor conserva rascunhos e, apesar de arrancar páginas, na maior parte das vezes as mantém, mesmo que tenha riscado quase tudo o que lá estava. É como se manter o rascunho e escrever como rascunho deixassem mais possibilidades de escrita, assim como há tantas possibilidades de interpretar Kafka. Como se ele fosse reticente em colocar o ponto final, com toda a sua ditadura. Talvez seja por isso também a dificuldade em terminar narrativas. A falta do fim abre espaço para vários fins possíveis, que ficam então a cargo dos leitores, a quem Kafka parece dar tanta importância.