Educação e religiosidade na reserva indígena de Dourados/MT (1929-1969): práticas, representações e apropriações

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Peres, Cristiane Pereira lattes
Orientador(a): Furtado, Alessandra Cristina lattes
Banca de defesa: Ribeiro, Betania de Oliveira Laterza lattes, Pereira, Levi Marques lattes, Moreira, Kênia Hilda lattes, Troquez, Marta Coelho Castro lattes
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Grande Dourados
Programa de Pós-Graduação: Programa de pós-graduação em Educação
Departamento: Faculdade de Educação
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/handle/prefix/5358
Resumo: Esta pesquisa insere-se na linha História da Educação, Memória e Sociedade do Programa de Pós-Graduação em Educação (Mestrado e Doutorado) da Universidade Federal da Grande Dourados e de forma mais específica nas investigações sobre a História da Educação para os povos indígenas. Tem como objeto de pesquisa as práticas de educação escolar utilizadas na Escola da Missão (Escola Primária General Rondon) e na Escola do Posto (Escola Francisco Ibiapina), bem como as práticas não escolares e religiosas inseridas na Reserva Indígena de Dourados (RID), entre os anos de 1929 e 1969. Tal recorte está associado a períodos que marcaram a História da Educação direcionada aos indígenas das etnias Kaiowá, Guarani e Terena. O inicial (1929) é marcado pela instalação da Missão Evangélica Caiuá (MEC) na Reserva e, também, pelas experiências de ensino iniciadas na Escola da Missão e na Escola do Posto; e o final (1969), por mudanças ocorridas anteriormente na educação para os indígenas. O problema de pesquisa incide em compreender como foram sendo construídas as representações e práticas escolares e não escolares, nas relações mantidas entre os protestantes, os agentes do Estado e os indígenas no processo de alfabetização e evangelização. A tese defendida é a de que os indígenas se apropriaram dos conhecimentos que foram inseridos na Reserva por meio da evangelização e da alfabetização e empreenderam táticas de convivência e sobrevivência para permanecerem ante à política nacional de evangelização e alfabetização que visavam substituir suas culturas e torná-los indivíduos cristãos, cívicos, trabalhadores e com civilidade. O objetivo geral deste estudo é analisar as representações e práticas escolares e não escolares, bem como a influência religiosa nas práticas cotidianas da Reserva. A pesquisa fundamenta-se nos conceitos de representação, práticas e apropriação desenvolvidos por Chartier (1990, 1991, 2010); de estratégias, táticas e bricolagem de Certeau (2014); de instituições escolares de Magalhães (1996, 2004, 2005); de cultura escolar de Viñao Frago (1995, 2000), Dominique Julia (2001) e Escolano Benito (2017), das disciplinas escolares, Chervel (1990), e de currículo, de Goodson (2018) e Veiga-Neto (2002a, 2002b, 2004). Além disso, recorre-se a uma bibliografia referente à educação para os indígenas e educação indígena, à História da Educação, à história de Mato Grosso e à história de Dourados e região. Trata-se de uma pesquisa histórica, que se caracteriza tanto como uma pesquisa bibliográfica quanto como documental. O corpus documental é constituído por documentos oficiais do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), bem como pelos jornais protestantes Expositor Cristão, O Estandarte, O Puritano e A Penna Evangelica e, também, por cartilhas, livro e revista, a saber, a Cartilha do povo – para ensinar a ler rapidamente, a Cartilha da infância, a cartilha Kuatiañe’ẽ moñe’ẽkuaarã – O papel que fala, o Primeiro livro de leitura, e a revista Bem-tevi. Compreende-se com a pesquisa que os indígenas estabeleceram diálogos com o que era ensinado nas escolas, na igreja e na Reserva a fim de construírem certo controle das imposições e, assim, não serem integrados à sociedade não indígena segundo a proposta do projeto educativo-religioso dos protestantes e da política indigenista do Estado. Apreende-se, ainda, que as etnias foram reunindo conhecimentos sobre a cultura e os conhecimentos dos não indígenas que possibilitaram conhecer e agir sobre o novo cenário multiétnico e multicultural que estava se constituindo na região de Dourados com a chegada dos não indígenas; os quais trouxeram doenças, violência, trabalho forçado, expropriação da terra, pobreza, controle da vida social, política e religiosa. Assim, esse papel educativo inserido na Reserva pela escola, igreja, orfanato e hospital contribuiu para que os indígenas pudessem pensar em novos modos de agir no novo cenário em que passaram a conviver com os não indígenas e outras etnias.