As Mortes na fronteira e as fronteiras da morte: homicídios e drogas na fronteira Brasil-Paraguai

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Silva, Gabriel Yuji Kuwamoto lattes
Orientador(a): Campos, Marcelo da Silveira lattes
Banca de defesa: Alvarez, Marcos César lattes, Geraldo, Pedro Heitor Barros lattes, Faisting, André Luiz lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Grande Dourados
Programa de Pós-Graduação: Programa de pós-graduação em Sociologia
Departamento: Faculdade de Ciências Humanas
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/handle/prefix/4515
Resumo: O presente trabalho teve como foco os homicídios ocorridos nos seis pares de cidadesgêmeas do Mato Grosso do Sul que fazem fronteira exclusivamente com o Paraguai (Bela Vista e Bella Vista Norte; Coronel Sapucaia e Capitán Bado; Mundo Novo e Salto del Guairá; Paranhos e Ypejhú; Ponta Porã e Pedro Juan Caballero; e Porto Murtinho e Capitán Carmelo Peralta) que tenham sido relacionados a rede entorno do tráfico e/ou do contrabando de drogas no período entre 2015 e 2019. Diante da ausência de estatísticas oficiais específicas sobre esse assunto, criamos um banco de dados próprios a partir de 1192 notícias coletadas, principalmente, de jornais sul-mato-grossenses, mas também de paraguaios e de outras regiões do Brasil, a partir do qual averiguamos 201 mortes no período. Para entender as dinâmicas da violência e das redes de tráfico/contrabando na região, no primeiro capítulo, realizamos uma investigação histórica sobre a formação da região de um modo mais amplo e a gênese das práticas referidas no local. Constatamos uma permanente associação entre àqueles que exerciam tais práticas - desde os grupos mais locais até as facções de outros estados - e os representantes dos Estados brasileiro e paraguaio desde os anos 1970 até o presente. Essa contextualização serviu para a melhor compreensão do objeto principal dessa pesquisa, pois indica que as mortes na região não podem ser dissociadas da forma pela qual o(s) Estado(s) atua(m) nessa terra que está longe de ser “sem lei”. Essas mortes foram discutidas, no segundo capítulo, a partir da caracterização dos ocorridos quanto ao ano/mês, local e o modo de execução, bem como a partir do perfil das vítimas e autores quanto a nacionalidade, gênero, faixa etária, ocupação civil e “papel” na "guerra às drogas". Verificamos que a maior parte das mortes foram de homens relativamente jovens cuja ocupação civil não se sabia, mas que possivelmente teriam envolvimento com o tráfico/contrabando. Elas ocorreram majoritariamente no Paraguai, especialmente em Pedro Juan Caballero, com o uso de armas de fogo e um número elevado de disparos. O número de mortes acompanhou, de maneira geral, a quantidade de homicídios no Mato Grosso do Sul e em Amambay, com uma ligeira elevação em 2016 e um significativo aumento em 2019, quando foi contra a tendência da região. Por fim, no terceiro capítulo, analisamos a caracterização dessas mortes na imprensa sul-mato-grossense, com foco nas representações sociais (re)produzidas pelos jornais Campo Grande News, Correio do Estado, Dourados News, Midiamax e O Progresso. Comparando a cobertura da morte de agentes estatais e não-estatais, verificamos nos jornais uma certa afinidade com a perspectiva estatal. De maneira geral, percebemos uma tendência da imprensa em associar mortes violentas com as biografias e antecedentes criminais dos sujeitos envolvidos. Essa associação não acontece, porém, de igual maneira para todos os indivíduos e pode mudar com o tempo.