Produção e comercialização de produtos orgânicos pela agricultura familiar em Mato Grosso do Sul

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Gomes, Juliana Benites Padua lattes
Orientador(a): Padovan, Milton Parron lattes
Banca de defesa: Schlindwein, Madalena Maria lattes, Soares, João Paulo Guimarães lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Grande Dourados
Programa de Pós-Graduação: Programa de pós-graduação em Agronegócios
Departamento: Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Economia
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/handle/prefix/689
Resumo: Diante da necessidade da produção de alimentos de maneira cada vez mais sustentável, a agricultura com base nos princípios agroecológicos e a orgânica, se destacam como importantes caminhos para viabilizar a produção em harmonia com o meio ambiente, propiciando condições de ganhos sociais e econômicos aos agricultores. Embora haja a existência de tantos benefícios com a adoção de técnicas de base agroecológica nos cultivos agrícolas, percebe-se que tais iniciativas têm se expandido pouco nos dias atuais, em especial no estado de Mato Grosso do Sul. Nesse contexto, desenvolveu-se um estudo objetivando conhecer aspectos inerentes à produção e comercialização de produtos orgânicos, no âmbito da agricultura familiar no estado, de modo a identificar os principais gargalos deste setor, bem como os possíveis meios que resolveriam ou atenuariam as dificuldades que têm gerado grande entraves ao avanço deste segmento no estado. Este estudo foi desenvolvido envolvendo 101 produtores orgânicos oriundos de 22 municípios de Mato Grosso do Sul, com o objetivo de conhecer e analisar os aspectos inerentes à produção de alimentos sob bases agroecológicas dessas famílias. Especificamente, pretendeu-se caracterizar o perfil dos produtores e o atual cenário da produção orgânica no estado e identificar as dificuldades do setor, bem como os possíveis meios e/ou ações que amenizem ou solucionem essas dificuldades, segundo a percepção desses agricultores. Para identificar os agricultores que manejam suas unidades de produção, seguindo princípios agroecológicos, foi utilizada a metodologia de amostragem snowball sampling para descobrir os possíveis informanteschave, e também foram estabelecidos alguns arranjos com profissionais da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural de MS (AGRAER), e com alunos do curso de Especialização em Residência Agrária: Agroecologia, Produção e Extensão Rural, da Universidade Federal da Grande Dourados, que participaram na identificação de agricultores orgânicos, além de entrevistarem aqueles situados em seus municípios de origem. Em cada unidade produtiva previamente identificada, realizou-se uma visita guiada e, ao mesmo tempo, entrevistou-se o agricultor responsável a partir de um roteiro semiestruturado, contendo questões abertas e fechadas. As abordagens aos produtores também foram realizadas em dois eventos, durante este período, que reuniram produtores de diversas localidades do estado. Deste modo, o estudo foi realizado durante os anos de 2012 e 2013, gerando resultados que foram organizados em dois capítulos, sendo que o primeiro trata da “Produção orgânica no âmbito da agricultura familiar em Mato Grosso do Sul”. Os resultados deste capítulo mostraram que a maioria dos produtores orgânicos de base familiar de Mato Grosso do Sul tem idade entre 40 a 60 anos, os quais possuem baixo nível de escolaridade, sendo que 70% destes produtores já atuaram na agricultura convencional anteriormente. Os principais fatores motivadores ao uso de práticas agroecológicas são: a possibilidade de consumo de produtos saudáveis (49%), bem como interesse na supressão do uso de agroquímicos nos agroecossistemas (19%). Neste estudo, constatou-se boa diversidade de produtos oriundos da agricultura orgânica no âmbito da agricultura familiar, predominando hortaliças (63%) e frutas (47%), sendo a maioria produzida em pequenas áreas de até 1 hectare. As principais dificuldades na produção orgânica entre os produtores entrevistados são: a falta de recursos financeiros para investimento (32%), dificuldade no controle de pragas e doenças (29%), falta de insumos orgânicos (24%) e falta de assistência técnica (24%). No entanto, para que tais problemas sejam solucionados, 30% dos produtores apontam a necessidade do fortalecimento da união entre os próprios produtores, 29% mencionam a viabilização de assistência técnica de qualidade e em quantidade necessária, 24% indicaram a necessidade por viabilização de créditos para melhorar a infraestrutura. Em suma, mediante as dificuldades apresentadas por estes produtores, observa-se que em grande parte dos problemas, ainda presentes neste cenário, são reflexos de políticas públicas existentes que não estão alcançando estes produtores em sua totalidade, carecendo de maior atenção na execução destes programas, a fim de que atenda esse público com mais eficiência, para que se torne possível o avanço e superação das dificuldades da agricultura orgânica em Mato Grosso do Sul. Com base na mesma metodologia, o segundo capítulo aborda o tema “Agregação de valor, certificação, comercialização e consumo de produtos orgânicos oriundos da agricultura familiar em Mato Grosso do Sul”. Assim, de acordo com os resultados obtidos, constatou-se que 53% dos produtores orgânicos de base familiar não agregam valor aos produtos agrícolas, entretanto, dentre os produtores que agregam valor aos seus produtos, 68% mencionou a necessidade por investimento em tecnologias para melhorar este processo. Constatou-se, também, que 76% dos agricultores de base familiar não possuem a certificação orgânica e que para 78% dos produtores o canal de comercialização mais utilizado é a venda direta, sendo os demais canais menos explorados, em especial os programas de comercialização do governo. De acordo com os agricultores pesquisados, os principais entraves à comercialização de produtos orgânicos são: o escoamento da produção (48%), preços praticados (26%), bem como a falta de conscientização dos consumidores quanto à importância do consumo de produtos orgânicos (26%). Assim, para 25% destes produtores são necessárias melhorias no escoamento da produção, 18% argumentaram sobre a necessidade de melhor organização de grupos para comercialização coletiva e 16% dos produtores indicaram a necessidade por ampliação dos canais de comercialização, para que ocorram melhorias no elo da comercialização em Mato Grosso do Sul. Considerando a necessidade de maior conscientização da população acerca do maior consumo de produtos orgânicos, os agricultores enfatizaram a importância de divulgação contínua na mídia sobre os benefícios dos alimentos orgânicos (62%), bem como a realização de palestras aos diversos segmentos da sociedade sobre a importância dos produtos orgânicos (19%). Diante dos dados apresentados, verificou-se a presença de muitas dificuldades a serem superadas no âmbito da comercialização da produção orgânica e familiar em Mato Grosso do Sul. Deste modo, medidas emergenciais de apoio e assistência a estes agricultores podem contribuir para mudar esta realidade que se perpetua há algum tempo no estado, sob pena de desestímulo aos agricultores de permanecerem nessas atividades.