Racionalidade técnica e formação: um estudo a partir do personalismo de Mounier

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: Silva, Patrícia Costa e
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Goiás
Faculdade de Educação - FE (RG)
Brasil
UFG
Programa de Pós-graduação em Educação (FE)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/5817
Resumo: O domínio da razão técnica, que não reflete sobre seus pressupostos, mas apenas quantifica, planifica e calcula, tem direcionado a educação para a manutenção das estruturas do capitalismo, promovendo a “demissão” da pessoa, reduzindo-a a um instrumento dos dispositivos técnicos, a ser utilizado e manipulado com êxito no mercado. Em detrimento do desenvolvimento de suas potencialidades, o homem tem sido objetificado na condição de material estatístico de produtividade e eficiência, subordinado a leis mercadológicas, pautadas no individualismo e na competição. Na perspectiva do personalismo de Mounier, a educação, a partir das diretrizes pedagógicas oriundas do Iluminismo, com sua racionalidade técnica e utilitarista, visa apenas perpetuar o espírito burguês, voltado apenas para a visão individualista de riqueza e prestígio social. As reflexões de Mounier colocam em questão essa racionalidade técnica que, por objetivar uma otimização eficaz de todos os campos do saber e do fazer humanos, em busca do desenfreado progresso técnico, que é absolutamente impessoal, acabou por reduzir a percepção da realidade, fragmentando-a e promovendo uma visão dualista não só do mundo, mas também do conhecimento e do próprio homem. Pelo fato de a pessoa não ser a finalidade última destes avanços, não tem se promovido paralelamente uma intensificação de sua vida espiritual. Nessa perspectiva, a educação também tem deixado de ser um poder espiritual decisivo na constituição de um verdadeiro universo de pessoas, ocupando-se em demasia com a formação técnica de especialistas, negligenciando seu papel essencial que é o de ser uma arte de ensinar a elaborar o raciocínio com visão global e crítica. Por identificar saber com poder, a educação oriunda dos ideais do capitalismo, busca dar a conhecer para que não se possa pensar. A partir da perspectiva da intencionalidade fenomenológica, Mounier busca a superação das dicotomias provocadas por essa razão técnica e da educação que dela adveio, como entre sujeito/objeto, homem/mundo, corpo/alma, que para o autor são polos indissociáveis que formam uma unidade dialética. Mounier enfatiza, pela via do realismo integral, os complexos condicionantes das categorias do universo pessoal, que identificam a pessoa enquanto ser integral, singular, ser presente e inesgotável, um mistério, um eu-aqui-agora, permanência aberta não objetável e insubstituível, irredutível às previsibilidades objetificantes dos rigores lógicos, estatísticos e técnicos. Sua proposta de educação volta-se para o despertar da tridimensionalidade do ser pessoal, pautada no infindo diálogo entre recolhimento, ruptura e transcendência, mediado por uma liberdade não solitária, mas solidária, visando à formação integral da pessoa.Comprometida com sua autenticidade e independência, a partir do exercício de suas singulares vocações, a educação personalista de Mounier, por propor o desenvolvimento da vida interior no seio da vida comunitária, possibilitará ações engajadas, responsáveis por uma prática social emancipadora, no contexto da comunicação e no interesse da comunidade. Elucidamos, nessa pesquisa, que de fato há uma essência utilitarista na técnica, que se encaminha para o aperfeiçoamento, avaliados pelo êxito dos resultados quantitativos. Contudo, acreditamos, com Mounier, que uma mudança no interior do homem quanto aos valores que norteiam a civilização técnica, outras direções serão possíveis para o desenvolvimento técnico. Se por um lado, a autonomia e o artificialismo da técnica têm retirado a autonomia, criatividade e espontaneidade do homem, para Mounier o domínio desta razão não é total, pois a técnica resta apenas um instrumento que pode vir a ser utilizado em benefício do homem, contudo, a era da técnica ameaça o movimento de personalização, uma vez que tem servido a um regime desumano, de modo impessoal. Nesse contexto, a educação personalista propõe uma reestruturação dos valores que permeiam o universo do conhecimento, das vocações e das relações humanas, que hoje são técnicos, com ênfase na personalização da pessoa, que prevalecerá por toda sua vida.