Microempreendedorismo de raiz popular e políticas sociais de inclusão produtiva: do comércio das diferenças ao reconhecimento da diversidade econômica nas favelas do Rio de Janeiro

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Varanda, Ana Paula de Moura
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://app.uff.br/riuff/handle/1/29015
Resumo: Este estudo tem como objetivo geral refletir sobre as singularidades que caracterizam um conjunto de práticas econômicas desenvolvidas por trabalhadores e trabalhadoras nas favelas do Rio de Janeiro, através do trabalho por conta própria e da criação de pequenos negócios nestes locais. Tais elementos são expressivos do que Weber (1978) define como convenções sociais, ou seja, um conjunto de normas e de valores produzidos e reafirmados por relações intersubjetivas e que, nas relações de mercado, desempenham um papel-chave em seu conceito de ética econômica. Além de mediar o comportamento econômico dos indivíduos, as convenções sociais interferem em dimensões relacionadas à produção e ao uso de espaços públicos e privados associados ao exercício destas atividades econômicas. Sem ignorar fatores mais amplos que decorrem de uma histórica divisão racial e sexista da estrutura ocupacional brasileira, a tese enfoca questões que emergem da observação de processos microssociais relativos ao cotidiano de funcionamento e às estratégias que regulam as relações de trabalho e de mercado presentes nestas iniciativas. Nestas experiências é possível destacar o modo como as trocas sociais, as interações e os diferentes papéis desempenhados pelos indivíduos nas estruturas sociais (as divisões sexistas de tarefas, por exemplo) influenciam de forma importante a atuação das redes sociais presenciadas na vida econômica nas favelas. Ao buscar caracterizar os elementos que possam conferir uma identidade própria a estas ocupações, usualmente abordadas no âmbito de discussões relativas à informalidade no mercado de trabalho, o estudo se apoia no conceito de microempreendedorismo de raiz popular, formulado pelo professor Pedro Hespanha (2009, 2010, 2011). O uso desta acepção do termo empreendedorismo, proposta pelo autor supracitado, nos leva à desconstrução de categorias de análise comumente acionadas nas leituras sobre estas práticas econômicas. Neste percurso, as contribuições advindas do pensamento pós-colonial e descolonial e dos estudos feministas também nos fornecem um importante arcabouço teórico à proposição de uma leitura diversa das relações econômicas. Conhecer a diversidade de situações em que se manifestam as estratégias de montagem destes pequenos negócios dentro das favelas apresenta-se como um fator fundamental para elucidar equívocos e orientar programas de apoio e reconhecimento destas iniciativas que tenham convergência com as necessidades e os interesses práticos destes trabalhadores e trabalhadoras. O tratamento homogêneo que vêm sendo dispensado a estas práticas por órgãos de pesquisa e instituições de assessoria nos trazem à tona as contradições que envolvem projetos e programas sociais de qualificação profissional e de geração de renda associados às medidas de segurança pública, ordenamento e uso do solo que vêm sendo empreendidas pelo Estado nas favelas.