O espaço da casa e as configurações do feminino: uma leitura de Lúcio Cardoso

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Lemos, Carla da Costa de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://app.uff.br/riuff/handle/1/7171
Resumo: Esta dissertação busca estudar na obra Crônica da casa assassinada a relação histórica que foi construída pelo patriarcado entre o gênero feminino e o espaço doméstico, que se transformou em um local utilizado para silenciar e oprimir a mulher atrelando o feminino aos cuidados com a casa e a família. Assumiu-se, portanto, perspectiva que se contrapõe à concepção de que a casa seria como o berço metafórico que prepararia o homem para o mundo, cabendo à mulher a função de proteger e harmonizar este pequeno cosmo. Desde a Grécia antiga, as mulheres viviam reclusas no Gineceu, onde, longe de todos os olhares e tentações da sociedade e, privadas de quaisquer direitos políticos e jurídicos, cuidavam da prole e da morada. No entanto, ao longo do tempo, com todas as mudanças relativas ao papel da mulher e as discussões sobre igualdade de gêneros, alguns paradigmas foram quebrados, construindo-se uma nova visão sobre a mulher e o espaço doméstico. Neste ínterim se inscreve a obra de Lúcio Cardoso intitulada Crônica da casa assassinada (1959), que pode ser lida como uma denúncia em relação ao papel que se confere à mulher em uma sociedade fortemente marcada pelo patriarcado. O espaço da narrativa, a Chácara dos Meneses, é o locus do gênero masculino, representado pelo personagem Demétrio Meneses que, atento às tradições vigentes na sociedade da época, entra em conflito com os personagens que carregam as marcas dissonantes da transgressão e da mudança. Essas personagens são: a) Nina, a estrangeira, cunhada de Demétrio, imune às suas ordens; b) Timóteo, irmão de Demétrio, homossexual, que, por travestir-se com as roupas de sua mãe, é obrigado a manter-se no quarto escondido da família; e c) Ana, esposa de Demétrio, que subverte seu comportamento a partir do exemplo de Nina, transformando-se ao longo da trama e provocando situações que contribuem para a ruína da família e, consequentemente, do modelo masculino proposto por seu marido e tutor. A escrita fragmentada de Lúcio Cardoso, ao relacionar as cartas, os depoimentos e os diários dos diversos narradores, apresenta a decadência da tradição patriarcal, construindo uma escrita em que a casa, apresentada como um espaço símbolo deste patriarcado vigente, sucumbe frente a proposições marcadamente femininas. Dessa forma, esta dissertação tem como objetivo fazer uma releitura crítica da obra, buscando relacionar concepções ligadas ao espaço da casa ao discurso feminino enquanto dissonante. Por fim, busca-se compreender as relações de oposição construídas nesta relação dialógica entre o espaço da casa de fazenda tradicional e o renovador combate destas personagens femininas