Bárbaras cenas: : ecos do holocausto brasileiro após a reforma psiquiátrica nos discursos sobre a cidade dos loucos e das rosas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Bergamini, Valéria
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://app.uff.br/riuff/handle/1/24832
http://dx.doi.org/10.22409/POSLING.2019.d.04819168657
Resumo: Esta tese tem como proposta analisar o modo como se constituem os efeitos de sentidos do dito Holocausto Brasileiro após a Reforma Psiquiátrica no município de Barbacena, Minas Gerais, designada como Cidade dos Loucos e das Rosas. Assim, foram analisadas sequências discursivas acerca dos discursos sobre os Hospitais Psiquiátricos ainda existentes no município, com foco no imaginário que os constitui, bem como os discursos sobre a Reforma Psiquiátrica, manifestada pelos Serviços Substitutivos e complementares como o Museu e o Festival da Loucura. Analisamos, também, a influência da política local nesta (des)construção de sentidos sobre a loucura. A escuta foi feita por meio de dizeres do Jornal Correio da Serra, em circulação na cidade nos últimos 15 anos, a contar de 2001, ano em que entrou em vigor a Lei da Reforma Psiquiátrica no Brasil, até dezembro de 2016. A pesquisa foi norteada pelos dispositivos teórico-metodológicos da Análise de Discurso de orientação francesa, fundada pelo filósofo Michel Pêcheux, a partir de suas contribuições, bem como de seus desdobramentos no Brasil, com os trabalhos da professora Eni Orlandi e seguidores. Nosso trajeto de análise permitiu confrontar dizeres acerca do antes e do depois da Reforma Psiquiátrica na cidade de Barbacena, de maneira a desconstruir posições cristalizadas e identificar um empreendimento político para apagar a participação no passado e atribuir feitos heroicos a um grupo restrito. Porém, esta tentativa de reorganização de sentidos arraigados na memória não pode apagar contradições presentes nos discursos em análise. O hospício, gerador de empregos, prevaleceu como lugar ideal para o louco, garantindo a tranquilidade da família; nos discursos jornalísticos sobre os usuários dos Serviços Substitutivos ou vítimas do Holocausto, permaneceu a denominação de paciente, no sentido de submisso e dependente; os discursos sobre o Museu da Loucura, ao se concentrarem no passado, ressignificam o presente, apagando que o processo de desospitalização é lento e que os hospitais ainda funcionam em condições inadequadas; e o dizer sobre o Festival da Loucura, por sua vez, aponta para discursos contraditórios que inscrevem a tentativa de encerrar um passado atroz com festa, que reverbera no imaginário como um evento turístico que aquece o comércio. A dualidade Cidade das Rosas e dos Loucos produz sentidos em relação a uma memória saturada do dito Holocausto Brasileiro, tentando ressignificá-lo no presente, amenizando o passado; e tentando substituí-lo por rosas, apagando discursos sobre os Hospitais Psiquiátricos ainda em funcionamento na cidade, silenciando, assim, que o processo de desospitalização ainda não foi concluído.