Radioterapia nas neoplasias de sistema nervoso central na infância: perfil clínico, epidemiológico e toxidades

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Magalhães, Guilherme Araújo
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://app.uff.br/riuff/handle/1/34009
Resumo: Introdução: As neoplasias de sistema nervoso central correspondem a 21% do câncer infanto- juvenil, e são os tumores sólidos mais comuns na infância. Representam o maior número de mortes por câncer na população pediátrica e ainda são uma das causas mais comuns de morte infantil em países desenvolvidos. Avanços na neuroimagem têm melhorado seu diagnóstico e a combinação de terapias tem permitido a cura, com maior preservação da função neurológica. O principal tratamento é a cirurgia, e sua extensão depende do volume e localização do tumor, e da idade da criança ao diagnóstico. A radioterapia é bastante utilizada, muitas vezes associada à quimioterapia. Apesar de toda evolução tecnológica, a radioterapia ainda é responsável por sequelas. O objetivo desse estudo foi verificar o perfil sociodemográfico e clínico desses pacientes, estabelecer os principais tumores cerebrais tratados com radioterapia, seus tempos para diagnóstico e início de tratamento, relacionar as modalidades terapêuticas realizadas, analisar os volumes irradiados e as técnicas de radioterapia executadas, relacionando-os com toxicidade, aguda e tardia. Método: Foram analisados 257 pacientes pediátricos, com idade até 18 anos incompletos, com diagnóstico de neoplasia de sistema nervoso central, tratados com radioterapia no Instituto Nacional de Câncer-INCA, no período de janeiro de 2012 a dezembro de 2020. As variáveis foram divididas em sociodemográficas, clínicas, relacionadas ao tratamento e às toxicidades. As variáveis contínuas foram testadas para normalidade para estabelecer a utilização de testes paramétricos ou não, enquanto as categóricas utilizaram o teste de Fisher para definir a relação entre elas. Regressão logística foi usada para verificar associação entre as sequelas e fatores relacionados. Resultado: Predominaram crianças do sexo masculino, raça branca, com idade mediana ao diagnóstico de 7,6 anos. A maioria possuía casa própria, com infraestrutura básica, e renda familiar de até um salário mínimo. Os sintomas variaram com a localização do tumor e idade da criança, e os mais comuns foram cefaleia, vômitos e alterações na marcha. O principal tratamento foi o trimodal, sendo a radioterapia utilizada em 64% dos pacientes matriculados para tratamento no período. Os tumores mais frequentes para radioterapia foram o meduloblastoma, tumores de tronco cerebral e ependimoma anaplásico. A média do tempo para diagnóstico foi de 102 dias e do tempo para início de tratamento, de 25 dias. Sequelas relacionadas à doença, independentes do tratamento foram encontradas em 43% dos casos, sendo a convulsão e a hemiparesia as mais frequentes. Reações agudas pela radioterapia ocorreram em 65% dos pacientes. Efeitos tardios foram verificados em 19,5% das crianças e os distúrbios endócrinos foram os mais observados (hipotireoidismo, deficiência do GH e hipogonadismo), seguidos por déficits auditivos. Foram observadas associações significativas entre sequelas pela radioterapia e idade ao diagnóstico, idade na radioterapia, radioterapia de neuroeixo (vs focal), técnica conformacional (vs VMAT), e ter feito também quimioterapia e cirurgia. Não houve relação com dose e uso de derivação liquórica. Conclusão: As neoplasias cerebrais da infância têm uma apresentação clínica heterogênea, com sintomas iniciais inespecíficos e comuns a doenças benignas mais prevalentes, justificando parcialmente, o tempo prolongado para o diagnóstico encontrado. Dificuldades no acesso a exames de imagem e a centros especializados no tratamento do câncer infantil também podem contribuir para o atraso no diagnóstico e no início do tratamento, e consequentemente, para uma maior toxicidade ao tratamento. A própria doença causa sequelas, e as elevadas taxas de efeitos tardios pela radioterapia verificadas, podem estar relacionadas ao grande número de tumores tratados eletivamente com a técnica de neuroeixo, que foi responsável por 80% dos tratamentos das crianças que apresentaram sequelas. Ações de saúde devem ser promovidas visando o diagnóstico precoce para melhoria de resultados e redução de efeitos adversos.