Nômades digitais: um estudo etnográfico sobre trabalho móvel contemporâneo e estilo de vida

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Santos, Patrícia Matos dos
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://app.uff.br/riuff/handle/1/22652
Resumo: O termo “nômade digital” surge no século XXI, designando profissionais-viajantes que têm como propósito desenvolver suas atividades e gerar renda enquanto se deslocam mundo afora. Esse estilo de vida, caracterizado por viagens constantes, ganha cada vez mais adeptos, que compartilham do ideal de uma rotina flexível, combinando trabalho e viagens, através do uso das ferramentas de comunicação móvel. Tais indivíduos apresentam e defendem o nomadismo digital como forma de escapar da rotina e de modelos de trabalho que consideram limitantes e alcançar realização pessoal, além de possibilidade de viajar pelo mundo sem limitações. O fenômeno tomou forma predominantemente através de plataformas de redes sociais online, principal cenário de construção simbólica desse estilo de vida, por meio de imagens e relatos que pintam um cenário idílico de como é viver como um nômade digital. Esta tese empreende uma abordagem etnográfica multi-situada desse grupo que busca viver em constante movimento. O objetivo é compreender quem são esses sujeitos “(hiper)móveis” – como classifica O’Regan (2008) – e o que seu estilo de vida nos revela sobre o mundo atual, principalmente nos campos do trabalho e das mobilidades de estilo de vida (COHEN et al, 2015). Mais especificamente, busca-se descrever o surgimento do fenômeno, bem como as transformações sociais que o tornaram possível, identificar suas principais características e interpretar as sociabilidades dos indivíduos e grupos que levam a cabo o estilo de vida nômade digital. Para isso, foi realizada pesquisa de campo com inspiração etnográfica na cidade de Barcelona entre outubro de 2018 e maio de 2019, que contou com observação participante e entrevistas em profundidade com 19 pessoas, além de observações nos ambientes online a partir dos quais o grupo se organizava. Foi possível observar como as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, aliadas às transformações do capitalismo – atualmente informacional e desterritorializado –, favorecem o surgimento de novas mobilidades, como apontado por Sheller e Urry (2006), e, consequentemente, novos estilos de vida que se pretendem móveis e flexíveis. Além disso, a viagem aparece como uma potencialidade sendo a ideia de liberdade e de poder mover-se central para o nomadismo digital, apontando para uma potência de movimento que é particular e cara ao grupo estudado. Sendo assim, este trabalho discute questões como o que significa “viver em movimento” nos dias de hoje e quais subjetividades se constroem a partir desse contexto de (hiper)mobilidades físicas e virtuais; o que há por trás do discurso de rejeição do trabalho corporativo (considerado imóvel, limitante) e da celebração de um estilo de vida flexível e trabalho dito independente, focado no indivíduo; e quais as possíveis consequências do fenômeno, tanto na esfera do indivíduo e das subjetividades quanto na esfera social mais ampla. Espera-se, assim, contribuir com o debate acerca dos estilos de vida e mobilidades contemporâneos, bem como as transformações atuais nos campos do trabalho e o papel das novas tecnologias nesse contexto.