Paleoprodutividade costeira da região de Cabo Frio, Rio de Janeiro, ao longo dos últimos 13.000 anos cal AP

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2008
Autor(a) principal: Andrade, Michelle Morata de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Niterói
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://app.uff.br/riuff/handle/1/5899
Resumo: O sistema de ressurgência de Cabo Frio é considerado de proporção local/regional, com um aspecto intermitente e de baixa amplitude. Apesar disto, tem grande importância sócio-econômica, por induzir o aumento da produtividade pesqueira, e também pelo contexto climático do Estado do Rio de Janeiro. A interação de fatores oceanográficos e atmosféricos, em Cabo Frio, provoca um efeito no clima local, conhecido como enclave climático. Assim, na tentativa de entender os mecanismos de interconexão entre ventos e temperatura da superfície do mar (TSM) desta região, em tempos pretéritos, foi necessário conhecer melhor as relações recentes e seus efeitos sobre este sistema. Como ponto de partida para interpretar os resultados pretéritos, dados diários de TSM e direção e intensidade dos ventos regionais, durante a década de 70, foram utilizados no sentido de apontar relações entre freqüência, persistência e intensidade dos ventos sobre a ressurgência de Cabo Frio. Assim, o objetivo geral deste trabalho foi verificar as mudanças da paleoprodutividade na região de Cabo Frio durante o Holoceno, correlacionado-as com mecanismos sedimentares, oceanográficos e atmosféricos que possam explicá-las. Os resultados pretéritos foram obtidos com base em dois perfis sedimentares, coletados a 124m e 115m na plataforma continental de Cabo Frio. Indicadores orgânicos (COT, Fluxo de COT, C/N e palinofácies) e inorgânicos (minerais e metais) foram combinados no intuito de observar mudanças na paleoprodutividade do sistema de Cabo Frio, ao longo dos últimos 13.000 anos cal AP. O estudo da relação atual entre os eventos de ressurgência e os ventos regionais mostrou que a freqüência dos ventos NE não estabeleceu uma relação clara com estes eventos e que as advecções polares, representadas pelos ventos SW, pode não aumentar durante o outono-inverno. Eventos de ressurgência apresentaram distribuição unimodal tanto durante esta década, como durante os períodos sazonais, o que indicaria os ventos SW como principal controlador da ressurgência, considerando que a ação destes ventos persistiu por até 5 dias consecutivos durante o outono-inverno, suficiente para enfraquecer os ventos NE. No entanto, a intensidade dos ventos regionais parece ser o fator controlador da ressurgência em Cabo Frio. De outro modo, a evolução da plataforma continental, aliada à elevação do nível do mar, durante o Holoceno, influenciou de forma determinante a ocorrência dos eventos de ressurgência na região de Cabo Frio. Desta forma, com base nas mudanças registradas simultaneamente pelos multi-proxies ao longo das colunas sedimentares foram caracterizadas três fases: Fase 1 - entre 13.000 e 9.000 anos cal AP – quando ocorreu uma rápida ascensão do nível do mar, porém, com estabilizações. Este fato acarretou uma diminuição da contribuição terrígena, ao longo do tempo, registrada fortemente pelo decréscimo dos metais e palinomorfos figurados. Ocorreu uma transformação de um ambiente mais raso e dominado por águas oligotróficas (CB), para um ambiente mais profundo e com reflexos primários de águas frias, ricas em nutrientes (ACAS). Assim, a matéria orgânica oriunda do continente, trazida por meio fluvial e/ou eólico, foi substituída gradativamente pelo material de origem marinho. Neste sentido, o material alcançava o fundo cada vez menos refratário, o que pode ter condicionado um ambiente sedimentar mais óxico ao longo desta fase. Esta situação indicaria um aumento na produtividade do sistema, em virtude do reflexo da ACAS na região; Fase 2 – entre 9.000 e 5.000 anos cal AP – em que o ambiente tornou-se mais profundo e efetivamente marinho. Foi marcada pelo estabelecimento da ACAS no fundo da plataforma continental de Cabo Frio, apontado pelos indicadores orgânicos e inorgânicos. Em seguida, ciclos de maior ou menor produtividade se alternaram, marcando condições de ressurgência e subsidência, com o predomínio da ACAS e da CB, respectivamente, na plataforma continental de Cabo Frio, o que induziu mudanças no metabolismo do sistema e teve um papel fundamental nas alterações climáticas regionais. Eventos de ressurgência e fatores atmosféricos interagem por feedback, ou seja, ao mesmo tempo em que o padrão de ventos regionais pode influenciar os eventos de ressurgência, águas superficiais mais frias podem determinar um clima local mais seco. Desta forma, o sistema de Cabo Frio nesta fase já poderia responder aos efeitos climáticos das advecções polares e da ZCIT, por exemplo, condicionado períodos de ressurgência mais ou menos fortalecidos. No entanto, apesar da variabilidade da ressurgência nesta fase, a produtividade aumentou relativamente; e Fase 3 – entre 5.000 e 700 anos cal AP – em que a ressurgência pareceu estar ainda mais fortalecida, ainda que o sistema tenha apresentado alguma oscilação. A partir de 2.500 anos cal AP foram observados ciclos regulares, de cerca de 500 anos, nos registros dos metais e da razão C/N. Registros similares também observados em sedimentos do Golfo da Califórnia, Peru e Venezuela foram relacionados aos ciclos climáticos com a mesma periodicidade, apontando a variabilidade dos eventos ENSO como principal causa deste processo. Para Cabo Frio, é possível sugerir que eventos de dimensões globais possam interferir e perturbar registros regionais e/ou locais. Neste sentido, o fortalecimento da ressurgência pode ter acarretado uma fase, relativamente, ainda mais produtiva que a anterior, mesmo que com alguma curta perturbação cíclica, que poderia estar relacionado com a ocorrência de eventos El Niño e/ou pela ação de forçantes climáticas regionais, como a ZCAS.