"Eu não sei escrever academicamente": apreciações valorativas de estudantes do Programa de Tutoria da Pedagogia da UFF sobre suas práticas letradas acadêmicas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Souza, Camila Duarte de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://app.uff.br/riuff/handle/1/28591
Resumo: O objetivo geral desta tese foi o de conhecer e analisar as apreciações valorativas dos estudantes de Pedagogia da UFF (campus Niterói) que participaram do Programa de Tutoria, nos semestres letivos de 2019 e 2020, período em que atuei como Tutora, em relação às suas práticas letradas acadêmicas. A pesquisa, de cunho qualitativo, foi realizada em duas fases: reunião dos materiais coletados durante os encontros da Tutoria (inscrição por meio de formulário, caderno de campo, questionário, lista de presença com comentários dos estudantes e chats das aulas) e dois grupos focais, realizados a posteriori, no semestre letivo de 2022/2, quando os participantes do Programa já haviam avançado um pouco mais no curso superior. A intenção foi promover o cotejo entre os dados gerados nas duas etapas, a fim de identificar e analisar quais são as principais dificuldades enfrentadas por esses discentes no que se refere à leitura e à escrita dos gêneros acadêmicos e verificar o papel do Programa de Tutoria no processo de letramentos acadêmicos desses estudantes, sendo, esses, portanto, os objetivos específicos do presente trabalho. Como referencial teórico-metodológico, utilizo a Análise Dialógica do Discurso (BAKHTIN, 2011; 2020; VOLÓCHINOV, 2018) e os Estudos do Letramento (STREET, 1984, 2010; LEA E STREET, 1984; KLEIMAN, 1995, 2007; FIAD, 2011), partindo, desse modo, de uma perspectiva dialógica de linguagem bem como de uma concepção de letramento como prática social e que, portanto, é influenciado, dentre outras questões, pelas relações de ideologia, hierarquia e poder existentes na sociedade. O cotejo (BAKHTIN, 2011; GERALDI, 2012), como caminho investigativo, me auxiliou no movimento dialógico de relacionamento entre os enunciados gerados nos diversos dispositivos enunciativos. A partir da análise de todos os materiais, percebo que as principais queixas dos estudantes no que se refere às suas dificuldades, que são mais coletivas do que individuais, recaem sobre aspectos estruturais e normativos, e não discursivos. Outra grande dificuldade dos alunos diz respeito à falta de orientação dos professores, a qual, quando ocorre, limita-se a explicar a ABNT e a apresentar modelos de alguns gêneros discursivos acadêmicos, evidenciando que não há um ensino sistemático desses gêneros na universidade. Essas questões indiciam a existência, na comunidade acadêmica analisada, de uma Ideologia Oficial de que as práticas letradas acadêmicas demandam apenas o conhecimento de regras e normas, desconsiderando, assim, aspectos sociais, históricos, discursivos, culturais, ideológicos, hierárquicos e de poder envolvidos em todo tipo de letramento. Dessa maneira, foi observada a presença do modelo autônomo de letramento, bem como dos modelos de habilidades de estudos e de socialização acadêmica. O tom emotivo-volitivo dos enunciados dos educandos também deixou evidente a existência de dimensões escondidas e da prática do mistério. Os alunos se mostraram, diversas vezes, receosos, magoados e/ou traumatizados em relação à sua trajetória acadêmica, seja porque não conseguiram atender às demandas do curso, seja porque sofreram com questões de hierarquia e poder, sobretudo aqueles que possuem o perfil de aluno trabalhador, valoração dada por eles. Assim, muitos concluem o curso se adaptando, e não se integrando na esfera acadêmica. No que tange ao papel do Programa de Tutoria, as apreciações valorativas dos estudantes evidenciaram que a Tutoria ocupou uma função de orientação e acolhimento, que, em geral, eles não encontram na universidade.