Resumo: |
Ao analisar a escrita do Padre António Vieira, Antonio José Saraiva categoriza o método literário adotado pelo autor pela expressão “discurso engenhoso”. Este, em oposição ao discurso clássico, seria uma forma de escrita que, ao libertar a palavra da ordenação lógica, permite novas e múltiplas significações. Para Saraiva, o discurso engenhoso, enquanto princípio bastante próprio dos autores barrocos, guarda pontos de contato com a música e a pintura, podendo-se falar, portanto, de uma retórica plástica e musical. Tais características também são visíveis nas obras do autor português contemporâneo António Lobo Antunes, o qual se utiliza, em seus romances, de um certo modo de escrita que se aproxima daquele utilizado por Vieira, não só pelo trabalho similar com o texto, mas também pela proximidade com elementos estéticos percebidos na música e na pintura do período barroco. O objetivo do presente trabalho, portanto, é buscar evidenciar as relações existentes entre o processo de escrita ficcional de António Lobo Antunes e a dicção do período barroco, considerando aquele como herdeiro da tradição do discurso engenhoso, e, de igual forma, tecer relações entre os romances do escritor contemporâneo e as manifestações artísticas da música e da pintura, vislumbrando como estes códigos artísticos são evidenciados na tessitura textual |
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