Veja: o indispensável partido neoliberal (1989 - 2002)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2005
Autor(a) principal: Silva, Carla Luciana Souza da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://app.uff.br/riuff/handle/1/24639
Resumo: O objeto deste estudo é a revista semanal Veja, publicada pela editora Abril. A análise centra-se no período de 1989 a 2002. O objetivo é a investigação de quais são os interesses de classe defendidos na linha editorial, investigando quem são os sujeitos políticos, econômicos e sociais que se fazem representar na linha ideológica da revista. A revista é um instrumento que permite noticiar, defender e encaminhar ações de sujeitos concretos. Buscamos compreender quais são e a quem visam atingir esses posicionamentos e sua relação com o desenvolvimento do sistema de reprodução e ampliação do capital. Veja tem uma ação como partido político, na acepção gramsciana do termo. Suas táticas para alcançar tal objetivo são: 1) formulação, 2) gerenciamento, 3) ação pedagógica. 1) Veja possui um projeto e um programa de ação estabelecido em conjunto com outros grupos, especialmente o Fórum Nacional, coordenado pelo ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso. O Fórum propunha, em inícios de 1990 a prática de um aggiornamento, que constituiria uma contra-reforma moral e intelectual, resumida na sua teorização sobre o “moderno”. Buscava sintetizar e formular a experiência do reagnomics e thatcherism para a realidade brasileira. Reiterava a noção de que “não há alternativas”. Engajou-se em campanha constante para apontar rumos, assumindo papel dirigente diante das conjunturas políticas que envolviam outros grupos: os partidos formais, o Congresso Nacional, entre outros. O apoio de Veja aos governos esteve em relação direta com o cumprimento de determinadas condições por ela estabelecidas. A revista manteve com os diferentes governos brasileiros uma linha de coerência inarredável em torno de seu programa, controlando sua aplicação. 2) Veja atuou na formação dos organizadores das mudanças e gerenciamento necessários à ordem neoliberal. Seus ensinamentos dirigiam-se aos pequenos e médios gestores dessas medidas, induzindo-os a considerarem necessárias as demissões e o enxugamento de postos de trabalho, o fim de direitos e o aumento de obrigações por parte dos trabalhadores que eles administram. Mesmo quando há apoio, a cobrança é permanente e sistemática contra quaisquer desvios. 3) O sentido pedagógico se centra em três aspectos. A) A cobertura internacional da revista, com papel relevante na construção da credibilidade jornalística, as notícias mundiais apresentadas de forma a justificar a exigência do programa de ação proposto. A cobertura sobre os acontecimentos internacionais atende ao modelo de propaganda: o privilégio de fontes oficiais, as razões do império como naturalmente hegemônicas, o controle das vozes dissonantes, o anticomunismo acirrado. Apresenta a hegemonia norte-americana como indispensável para a manutenção dos padrões de acumulação e reprodução do capital. B) A formulação de um “admirável mundo novo” é o outro eixo desta ação pedagógica, propondo uma contra-reforma moral e intelectual, definindo um estilo de vida, essencial para o projeto político e econômico gestado em Veja. Mas esse mundo esbarra nos elementos reais que o discurso apologético não tem como negar, e sobre eles tenta impor um pensamento homogeneizador e obscurecido do seu sentido contraditório. A miséria, violência, devastação, cada vez mais ampliadas, não podem ser negadas, porque são limites do próprio sistema, mas a revista, em contraposição, propõe um mundo de aparente harmonia, o mundo do espetáculo, uma das formas de obscurecer essa realidade. Também aqui, a revista retoma os padrões de gerenciamento do capital. Os seus gerentes precisam aprender a moldar seus estilos de vida, devem internalizar a face “cultural” do neoliberalismo (consumo exacerbado, novas tecnologias, padronização do corpo e da saúde, etc) como sendo a única (e a melhor) forma de vida possível. c) Por fim, a revista atua no sentido da coerção e cobrança da repressão policial. Um dos eixos neoliberais é o reforço de sua ação policial, o desmantelamento dos movimentos sindicais, a cooptação dos movimentos sociais. Para isso há uma ação sistemática no sentido de desmoralizar a ação coletiva dos trabalhadores e deslegitimar qualquer alternativa de contestação ao projeto neoliberal