Violência psicológica contra a mulher : um estudo sob a ótica da teoria das representações sociais

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Neves, Beatriz Motta
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Espírito Santo
BR
Mestrado em Psicologia
UFES
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://repositorio.ufes.br/handle/10/12184
Resumo: A existência de relacionamentos amorosos abusivos denuncia o predomínio de uma relação hierárquica e desigual entre os gêneros, que pode legitimar a ocorrência de violência e discriminação, bem como o lugar de subordinação insistentemente atribuído às mulheres. A violência contra a mulher, assim, inclui-se dentro da categoria de violência de gênero, que se perpetua de diversas formas dentro da sociedade. Porém, ações mais sutis, tais como chantagens, humilhações, xingamentos e manipulações, que caracterizam uma forma de violência, nem sempre são compreendidas como abusivas, sendo constantemente naturalizadas. O presente trabalho, sob a ótica da Teoria das Representações Sociais, propôs-se a investigar compreensões sobre gênero e violência contra a mulher, com foco na violência psicológica, bem como estratégias de enfrentamento utilizadas pelas mulheres em casos de relacionamentos abusivos. O estudo 1 teve como objetivo geral investigar representações sociais de violência contra a mulher, com foco em violência psicológica, e representações sociais de gênero contidas em matérias jornalísticas que tratavam sobre relacionamentos abusivos, bem como verificar se tais matérias jornalísticas faziam referências a estratégias de enfrentamento à violência contra a mulher. Consistiu em uma pesquisa documental, que foi realizada tendo como fonte de dados 222 matérias da Revista Istoé, do período entre 2012 e 2021, selecionadas por meio dos termos de busca “violência contra a mulher”, “violência psicológica” e “violência de gênero”. O estudo 2 envolveu a realização de entrevistas semiestruturadas com 16 participantes visando investigar representações sociais de violência contra a mulher, com foco em violência psicológica, de mulheres que já vivenciaram e/ou vivenciam um relacionamento abusivo, bem como estratégias de enfrentamento por elas relatadas. Além das questões apresentadas verbalmente, o roteiro de entrevista compreendeu, num primeiro momento, duas questões que utilizaram charges com a finalidade de introduzir a temática de interesse e deixar que as participantes falassem livremente sobre o que pensavam sobre os conteúdos das imagens. O material proveniente da pesquisa documental e das entrevistas foi submetido ao processamento do software IRAMUTEQ (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires) e, de modo complementar, também foi empregada a técnica de análise de conteúdo temática em ambos os estudos (exclusivamente no conjunto de matérias selecionado com base no descritor violência psicológica; e nas perguntas do roteiro de entrevista semiestruturada que utilizaram recursos visuais). Como resultados do estudo 1, destacam-se: as matérias que abordavam a violência contra a mulher focavam, sobretudo, em aspectos criminais, estatísticos, e em casos envolvendo pessoas conhecidas no meio midiático; as matérias não trouxeram uma conceituação explícita acerca de gênero, mas algumas indicaram aspectos culturais e sociais relacionados à ocorrência de violência contra a mulher; as estratégias de enfrentamento foram descritas predominantemente associadas a ações legais/punitivas. Em relação aos achados do estudo 2, foram identificados conteúdos de representações sociais de gênero e de violência contra a mulher sustentados em aspectos socioculturais, que indicam relações hierárquicas de poder entre homens e mulheres. As mulheres entrevistadas relataram utilizar diferentes estratégias frente ao contexto de violência, sendo algumas de âmbito mais individual (busca de informações e aproximação com pautas feministas por meio de leituras, por exemplo), enquanto outras envolviam busca de ajuda por meio de suporte social e/ou profissional. No que diz respeito às significações de violência psicológica, constatou-se que, tanto as matérias (estudo 1) quanto as entrevistas (estudo 2) não trouxeram propriamente uma definição conceitual a este respeito, enfocando mais em práticas que caracterizavam esse tipo de violência (desqualificação, ameaças, manipulações, gritos, humilhações, xingamentos, entre outras). Destaca-se que o fenômeno da violência psicológica é de difícil abordagem e que, por tal motivo, foi necessário percorrer um caminho indireto para tentar acessá-lo. No entanto, considera-se um avanço, em alguma medida, que essa tipologia tenha sido mencionada nas matérias de revista analisadas e que as participantes tenham demonstrado conseguir identificá-la dentro das experiências narradas. Espera-se que a presente investigação, que tentou trazer mais algumas pistas sobre o fenômeno da violência psicológica nos relacionamentos amorosos, sirva de pontapé para novas abordagens teóricas e metodológicas sobre o tema, auxiliando no preenchimento das lacunas ainda existentes.