A chegada das águas: conflitos socioambientais e mudanças no mundo do trabalho rural provocadas pela formação de lagos artificias.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2012
Autor(a) principal: EVANGELISTA, Genyson Marques.
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Campina Grande
Brasil
Centro de Humanidades - CH
PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
UFCG
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/2041
Resumo: No Brasil, o estudo dos impactos da construção de grandes barragens é algo recente entre economistas e cientistas sociais. O crescimento dessas obras tem acompanhado o processo de mundialização do capital no crescimento do que chamamos de sociedades eletrointensivas. Delas surgem lagos que inundam vastas áreas de terras antes utilizadas com agricultura e que abrigavam comunidades rurais formadas em grande parte por camponeses. Tal processo, resultado de políticas de desenvolvimento comandadas pelo Estado impacta fortemente a organização da unidade de produção agrícola familiar, seja pela perda de suas terras para as águas das barragens, seja pela expropriação de seus recursos produtivos. Surgem aí movimentos de resistência das populações diretamente atingidas como reação à intervenção estatal que, quase sempre, ocorre de forma autoritária. O deslocamento compulsório dessas comunidades para outros espaços construídos, com características semi ou tipicamente urbanas acaba, na maioria das vezes, por transformar os seus habitantes em consumidores segundo os requerimentos das sociedades eletrointensivas. No entanto, esse processo não é linear e nem garante essa nova condição social a todos os atingidos, pois parte deles acaba desenvolvendo estratégias de resistência para manter a sua condição camponesa, enquanto outros sucumbem ao teste de seleção dos novos consumidores. A principal condição imposta pelo circuito de mercado para que as populações atingidas sejam alçadas à condição de novos consumidores é a transformação de sua força de trabalho antes imersa na lógica da reprodução da agricultura camponesa em mercadoria, no sentido mais profundo que Marx dá ao termo. As transformações pelas quais as famílias camponesas têm que passar no processo de relocação compulsória de suas terras resultam em uma nova estrutura de gastos e de consumo, na falta de ocupações, na transformação do camponês em morador urbano (onde o mesmo tem que comprar o que antes produzia), nas dificuldades do seu processo de adaptação ao mercado de trabalho e, consequentemente, no fim da autonomia camponesa. As tentativas de reconstrução da antiga organização social e econômica que “desapareceu” com a inundação das terras de centenas de famílias pela barragem de Acauã constituem o aspecto mais dramático de quem teve de enfrentar tal situação, pois para elas, é extremamente difícil reconhecer e aceitar a perda completa de suas terras e da reprodução de suas condições de vida comunitária, pois isso afeta a sua capacidade de produzir seu próprio alimento. Assim, iniciou-se um movimento de luta pela sua recampesinação. Mas essas tentativas esbarram nos conflitos que envolvem os interesses dos agricultores familiares com os dos grandes proprietários em torno das terras que escaparam à inundação, no não cumprimento das promessas do poder público de reassentar todas as famílias desalojadas e até mesmo nos conflitos e nos equívocos que se instalam dentro do próprio movimento dos atingidos, coisa que raramente as investigações acadêmicas enxergam. Essa problemática tem levado a intensas discussões sobre uma das mais antigas teses acerca da agricultura camponesa, o seu desaparecimento com o avanço da moderna agricultura capitalista. Estaria o crescente processo de construção de grandes barragens contribuindo para a descampesinação? Essa pesquisa mostra que, são escassas as possibilidades de sobrevivência dos camponeses, mas devemos compreender que a capacidade de resistência e organização política dos camponeses é uma realidade concreta e objetiva e que não há provas ou tendências claras de que a construção dessas grandes obras concorra para o seu desaparecimento.