O trabalho na Assistência Social como uma “missão de vida”: Dinâmicas de poder e identidades profissionais de Assistentes Sociais e Psicólogos.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: ALMEIDA, Marcos Pablo Martins.
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Campina Grande
Brasil
Centro de Humanidades - CH
PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
UFCG
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/17063
Resumo: A presente tese se debruçou sobre a dimensão do trabalho de técnicos (psicólogos/as e assistentes sociais) da Proteção Social Básica (PSB) e da Proteção Social Especial (PSE), de média complexidade, de serviços socioassistenciais do município de Caruaru-PE, com a finalidade de compreender as dinâmicas de poder e as elaborações identitárias que guiam as intervenções sobre a vida dos usuários desses serviços. Para tanto, entrevistamos 16 técnicos, sendo 14 mulheres e 2 homens, dos quais 9 eram psicólogos(as) e 2 eram assistentes sociais; além das duas gerentes, da PSB (assistente Social) e PSE (advogada), ambas mulheres. Entrevistamos também 2 ex-gerentes das PS’s, ambos psicólogos, uma mulher e um homem; 1 ex-técnica de Casa de Acolhimento, psicóloga, 1 ex-estagiária de psicologia de Casa de Acolhimento e 1 ex-membro de instituição socioassistencial do terceiro setor. Os resultados da pesquisa apontaram para um cenário de precarização extrema do trabalho, configurado como um serviço de baixa remuneração, intensificação da carga e vínculos precarizados. Por outro lado, embora a própria estrutura normativa dos serviços e da Política Nacional de Assistência Social (PNAS), provoque a necessidade de valorização o saber técnico, é possível notar que, em virtude das péssimas condições de trabalho, o investimento na formação e aperfeiçoamento para o trabalho não são valorizados pela maioria dos técnicos. Foi perceptível também uma intensa responsabilização, inclusive judicial, introduzida nas tarefas. Nesse cenário os técnicos constroem representações negativas sobre os usuários que não se engajam nos processos de acompanhamento, reforçando interpretações que culpabilizam as famílias. Estão propensos também, a interpretações salvacionistas da atuação, que amparam a identidade profissional, ao tempo em que ancoram, em torno da ideia de vocação, a permanência e engajamento no trabalho, mesmo em condições precárias. A intervenção no âmbito da PSE, por outro lado, se justifica muitas vezes como ato de “salvar vidas”, e nesse ínterim, os profissionais são levados ao exercício do poder pastoral, como fórmula benfazeja do cuidado com as famílias, considerando a vontade dos usuários como empecilhos. Em suma, as identidades profissionais nos serviços socioassistenciais municipais, se apresentam como guiadas pelo senso de ajuda e de missão, o que dispõe os profissionais a aceitar as condições precarizadas e a instaurar, na relação com os usuários, práticas pastorais de poder. Vivencia-se então um paradoxo fundamental, pois parece ser pouco possível desenvolver uma prática comprometida e engajada nesse setor, distante da ideia de missão, ao tempo em que esse modus operandi aprisiona subjetivamente os técnicos em condições de trabalho precárias e os condiciona a “guiar a vida dos usuários”, desconectando-se do amparo técnico e das reflexões científicas sobre os problemas que assolam a vida das pessoas atendidas pelos serviços socioassistenciais.