As dobras do feminicídio: um estudo das narrativas dos homens criminosos na cidade de Campina Grande (2015-2020).

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: OLIVEIRA, Alisson Rodrigo de Araújo.
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Campina Grande
Brasil
Centro de Humanidades - CH
PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS EM REDE PROFLETRAS (UFRN)
UFCG
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/34064
Resumo: A violência contra mulheres, sobretudo no tocante ao feminicídio, consiste em um fenômeno complexo e multicausal. Para além de um problema público, materializado por meio da Lei 13.104/2015, o feminicídio consiste em fenômeno socioantropológico, que se apresenta interseccionado por diversas linguagens da violência e representa uma prática de ódio cujas destinatárias são as mulheres. Nestas tramas, comumente poder e dominação articulam-se no intuito de promover a eliminação do outro, de fazê-lo “pagar” com a própria vida a partir do apelo à crueldade enquanto ferramenta não apenas racional, mas, emocional. À vista disso, o problema posto neste estudo é saber de que maneira o feminicídio praticado por homens se relaciona com a construção problemática de modelos de masculinidade violenta em nossa sociedade? Sendo assim o objetivo geral desta pesquisa consiste em analisar o fenômeno do feminicídio sob a ótica de seus perpetradores, buscando compreender as narrativas de homens feminicidas sobre as suas motivações, circunstâncias e autoavaliações de seu comportamento em sua interface com modelos de masculinidade e feminilidade por eles partilhados. Quanto à metodologia, optou-se por uma pesquisa descritiva de caráter quali-quantitativa e explicativa, instrumentalizada a partir de uma coleta de dados por meio de pesquisa de campo documental, com a coleta e análise dos inquéritos policiais referentes aos crimes classificados como feminicídio pela Delegacia de Crimes Contra a Pessoa de Campina Grande/PB, no período 2015-2020. Em momento posterior, foi realizado o tratamento das narrativas e a categorização dos casos inspirado no modelo de análise de conteúdo, a partir de uma amostra de homens criminosos, autores do crime de feminicídio na cidade e condenados pela Justiça. Com relação aos principais resultados, investiu-se em uma tipologização dos casos a partir dos achados no campo e suas características centrais: as “vozes que ecoam”, para os casos de feminicídio seguidos de suicídio dos autores, cujas vozes passam a ecoar por seus familiares íntimos e as “vozes que falam”, para os casos julgados e cujos autores foram condenados. A partir das análises, uma das limitações constatadas foi a ausência, nos inquéritos policiais, de informações que permitissem uma compreensão interseccional ampla sobre os atores envolvidos nas tramas de feminicídio, além de serem peças organizacionais, cercadas pela lógica de representações jurídicas. Um aspecto comum aos casos foi esvaziamento das fontes usuais de poder masculinas, além da crueldade enquanto características, envoltas por racionalidade e/ou emoções. Por fim, as considerações finais vão no sentido de que os homens autores do feminicídio são, antes de tudo, homens comuns. Por esta razão, tratar sobre masculinidades exige o posicionamento dos homens nas relações de gênero, que estão sempre situadas em um dado contexto. Assim, espera-se que esta investigação possa servir de suporte para avançar no conhecimento e no debate sobre as dobras do feminicídio.