O lugar da comunicação nos conflitos ambientais: experiência e reflexão a partir do projeto de mineração de urânio e fosfato em Santa Quitéria/CE

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Lopes, Camila Aguiar de Oliveira
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/64135
Resumo: O objetivo dessa pesquisa é refletir sobre o lugar da Comunicação nos contextos de conflitos ambientais inerentes ao modelo de desenvolvimento econômico brasileiro, desde a experiência vivenciada em torno de um projeto de implantação de um empreendimento de mineração de urânio e fosfato no sertão central do Ceará, o Projeto Santa Quitéria. Os conflitos ambientais se configuram a partir de disputas em que se confrontam distintas racionalidades e modos de vida nos territórios, nos quais se revelam assimetrias de poderes políticos, econômicos e simbólicos. No conflito em Santa Quitéria/CE, observamos que as estratégias de comunicação ocuparam posição central na construção do convencimento e da legitimação do empreendimento de mineração e do modelo de desenvolvimento capitalista perante a sociedade, ao mesmo tempo em que foram fundamentais na circulação dos questionamentos e posicionamentos de comunidades camponesas e movimentos sociais em resistência à mineração. A partir disso, indagamos de que forma a Comunicação, em suas mais variadas expressões, pode contribuir para o enfrentamento dos conflitos ambientais -fazendo parte da estratégia política de denúncia e resistência ou para o agravamento das situações de injustiça e violações de direitos -como espaço de construção e propagação de modelos hegemônicos. Trata-se de pesquisa qualitativa, cuja metodologia abrangeu técnicas de trabalho de campo e observação participante, pesquisa documental, análise do discurso e entrevistas semi estruturadas. O Consórcio Santa Quitéria elaborou materiais como cartilhas, boletins informativos e vídeos com informações sobre o empreendimento. A ação que mais teve “efeito” sobre a memória e os debates sobre o Projeto nas comunidades foi a presença de um “funcionário da empresa” em reuniões e visitas às casas das famílias, tentando estabelecer relações de afetividade. Entre os elementos que compuseram o discurso dos empreendedores, identificamos,evidentemente, uma perspectiva desenvolvimentista enquanto projeto para aquele território; a tentativa de identificação e aproximação com o lugar (como mostra o slogan “riquezas da nossa terra”); o argumento de que a segurança da operação estaria garantida; e o objetivo de desconstruir o “imaginário local” sobre os riscos do urânio. Por sua vez,os sujeitos e grupos que compõem a Articulação Antinuclear do Ceará (AACE) também se dedicaram a elaborar materiais e processos de comunicação como parte das estratégias de enfrentamento ao empreendimento. Foram produzidas cartilhas, documentários, campanhas etc. Na mídia impressa, observamos a reprodução do discurso empreendedor em notícias publicadas predominantemente na editoria de Economia/caderno de Negócios de um jornal impresso local, repercutindo a perspectiva desenvolvimentista hegemônica. As discussões da pesquisa buscaram contribuir no delineamento de parâmetros iniciais de construção de ideias e estratégias de utilização da Comunicação como estratégia política no enfrentamento dos conflitos ambientais. Identificamos como aspectos orientadores as seguintes questões: promoção da autonomia e do protagonismo dos sujeitos e grupos sociais dos territórios; reconhecimento da potência do trabalho em rede; exercício da horizontalidade; pluralidade de linguagens; tradução de dados e informações científicas; diversidade de formatos; investimento em imagem e linguagem audiovisual. Consideramos que esses são resultados preliminares de um estudo acerca de concepções teóricas,metodológicas e práticas de uma noção de comunicação para a justiça ambiental, que pode ser aprofundado no decurso de subsequentes pesquisas, tendo em vista a necessidade de se elaborar perspectivas teórico-práticas de um trabalho de comunicação afinado com uma visão crítica do desenvolvimentismo.