Uma etnografia do cuidado: a atenção ao usuário de crack na rotina de agentes comunitários/as de saúde

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Costa, Talita Nunes
Orientador(a): Carvalho Filho, Milton Júlio de
Banca de defesa: Pimentel, Adriana Miranda, Tavares, Fátima Regina Gomes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Antropologia
Departamento: Não Informado pela instituição
País: brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/21989
Resumo: A Estratégia de Saúde da Família (ESF) é convocada a garantir assistência para as pessoas que consomem drogas (i)legais, na medida que esta prática social adquiriu a dimensão de problema de saúde pública. Similar aos demais serviços de saúde, a ESF espelha modos particulares, socialmente construídos, de compreender e lidar com os fenômenos de saúde e doença. O trabalho se fundamenta no/a agente comunitário/a de saúde, popularmente conhecido/a em Salvador/BA como “ACS”. Trata-se habitualmente de um/a morador/a que se torna cuidador/a da comunidade, o que lhe permite desempenhar o papel de “elo” entre a população e o serviço. A dupla inserção do/a ACS no território o/a destaca entre os/as demais profissionais da unidade de saúde, e é crucial para garantir a adesão e a eficácia das ações em saúde. Sua atuação multifuncional é ancorada na legislação; está submetida a diferentes esferas de gestão; é integrada às demais atividades desenvolvidas nos diferentes espaços da ESF; é orientada e/ou apoiada por profissionais vinculados/as ao posto de saúde e a outros serviços com quem atuam em parceria; é marcada pela relação entre concepções terapêuticas distintas que coexistem no âmbito da ESF; e está estreitamente relacionada à realidade das microáreas e da cidade onde elas se situam. Portanto, a gerência do processo de cuidar e a prática do/a agente de saúde revelam-se multideterminadas, ambivalentes e condicionadas culturalmente. Ao mesmo tempo, são responsáveis por causar sofrimento psíquico neste/a trabalhador/a, ao qual o/a ACS reage por meio de mecanismos de defesa (in)conscientes, individuais e coletivos. O cuidado oferecido por ACS para homens adultos que moram no bairro e consomem crack não foge a esta regra. A resistência masculina em acessar e/ou aderir à assistência prestada na rede básica de saúde acentua o distanciamento existente entre este público e o serviço. O/A profissional afirma desconhecer ou não se sente apto/a para lidar com os desafios que caracterizam a abordagem do usuário de crack. Apesar disto, encontra meios para assegurar o cuidado de si e deste sujeito, o qual é pautado sobretudo na sabedoria prática baseada em sua experiência cotidiana no território. Trata-se, portanto, de um cuidado no/do habitar. Este trabalho reúne algumas considerações sobre o assunto a partir de uma pesquisa etnográfica, realizada entre junho de 2015 e setembro de 2016, em uma unidade da ESF soteropolitana e seu território de abrangência. O objetivo é problematizar, do ponto de vista antropológico, as questões sociais e culturais do trabalho do/a ACS; e compreender os limites e possibilidades de sua atuação na ESF frente ao consumidor de crack.