Crescendo entre nós: ensaio sobre a identidade nacional da criança testemunha de guerra civil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Fernandes, Breno lattes
Orientador(a): Lima, Rachel Esteves lattes
Banca de defesa: Lima, Rachel Esteves, MARTINS, Anderson Bastos, Lage, Victor Coutinho, Cruz, Décio Torres, Santos, Mônica de Menezes
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura (PPGLINC) 
Departamento: Instituto de Letras
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/36027
Resumo: Esta tese se propõe a refletir sobre o que acontece com a identidade nacional no contexto de uma guerra civil. Como ensaio de literatura comparada, o questionamento surge associado a um corpus de pesquisa composto de quatro romances contemporâneos: Como o soldado conserta o gramofone, do bósnio Saša Stanišić; A espingarda do meu pai, do curdo-iraquiano Hiner Saleem; Muito longe de casa, do serra-leonense Ishmael Beah; e Meio sol amarelo, da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Todos os romances tratam de guerras civis ocorridas no século XX, nos países de seus respectivos autores, e são protagonizados por garotos, motivo pelo qual a criança, como categoria social, torna-se o foco de observação das mudanças que sofrem os corpos, os discursos e os afetos implicados na manifestação do nacionalismo às vésperas de um conflito civil ou quando ele já está em curso. Tal reflexão se baseia em dois pressupostos. O primeiro é que toda guerra civil demanda que o nacionalismo hegemônico de determinado país seja previamente desestabilizado, o que criaria a expectativa de que ele pode ser substituído por outra versão da mesma ideologia. Já a segunda premissa é que a criança, desde a modernidade, é encarada como sujeito que necessita de mais do que a maturação do corpo para alcançar o status de adulto. Ela também precisaria de um conjunto de aprendizados, dentre os quais está a ideologia nacionalista. Com base em tais constatações, os corpos e mentes das personagens observadas são percebidos como alvos em potencial da disputa entre nacionalismos interna à nação, da pedagogia nacionalista que advém de instâncias discursivoafetivas variadas, como a escola, a arte e, principalmente, a família e a vizinhança. Em relação aos corpos, constata-se que a vizinhança parece ser um segundo estágio da travessia edípica, que, segundo a psicanálise, é responsável por estabelecer a compreensão de que há o eu e há o outro. Esse é um dos fatores que transformam a vizinhança na manifestação primeira e paradigmática da comunidade nacional, a ponto de a guerra civil implicar numa drástica recusa coletiva à ética da vizinhança. No que concerne aos discursos nacionalistas, tenta-se demonstrar como o nacionalismo jamais está plenamente estabilizado, havendo sempre outra(s) forma(s) da mesma ideologia à espreita de uma oportunidade de conquistar a hegemonia. Ademais, comenta-se como, uma vez que o nacionalismo aproxima os sentidos de inimigo e de estrangeiro, é recorrente a necessidade de estrangeirar parte da população nacional a fim de legitimar a investida belicosa contra essa minoria. Finalmente, em relação aos afetos movidos pelo nacionalismo durante a guerra civil, sugere-se que o sentimento de desamparo se torna uma das principais causas de sofrimento emocional da criança, ao mesmo tempo que o ato de brincar se reveste de intenções que vão desde a elaboração do desejo de que a nação da qual se faz parte vença a luta até a performance dos tempos de paz.