Violência no trabalho e transtornos mentais comuns em trabalhadores/as da saúde em três municípios baianos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Reis, Elaine de Souza lattes
Orientador(a): Feijó, Fernando Ribas
Banca de defesa: Feijó, Fernando Ribas, Almeida, Milena Maria Cordeiro de, Pinho, Paloma de Sousa
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Bahia
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Saúde, Ambiente e Trabalho (PPGSAT) 
Departamento: Faculdade de Medicina da Bahia
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/40079
Resumo: Durante a pandemia de COVID-19, os trabalhadores/as da saúde ganharam reconhecimento pela sua importância para o bem-estar social. Entretanto, juntamente com esse reconhecimento, também foram reveladas precariedades no ambiente de trabalho, como a exposição à violência, seja dos usuários dos serviços de saúde ou entre colegas. A organização do trabalho, com exacerbação de estressores ocupacionais e sobrecarga laboral, torna o ambiente de trabalho suscetível a violências, como agressões e assédio. Ao mesmo tempo, os Transtornos Mentais Comuns (TMC) têm mostrado um crescimento significativo, principalmente entre os trabalhadores/as da saúde nos últimos anos, sendo responsáveis por uma das principais causas de afastamento do trabalho e concessão de benefícios pela Previdência Social. Esse contexto do trabalho em saúde, com estressores e situações de violência, está associado a maior ocorrência de problemas de saúde mental, como os TMC, o que pode ser agravado na conjunta brasileira durante a pandemia de COVID-19. Objetivos: Dessa forma, essa dissertação objetivou analisar a associação entre a exposição à violência no trabalho e TMC em trabalhadores/as da saúde da atenção primária e média complexidade em três municípios baianos, no nordeste brasileiro. Métodos: Realizou-se um estudo epidemiológico de corte transversal analítico, com uma amostra representativa dos trabalhadores/as da saúde de três municípios do Estado da Bahia: Feira de Santana, São Gonçalo dos Campos e Cruz das Almas. A população alvo foi composta por trabalhadores/as da saúde da Atenção Primária e Média Complexidade. A coleta de dados foi iniciada em abril de 2021, e finalizada em abril de 2022. O desfecho dos transtornos mentais comuns foi avaliado pelo Self Reporting Questionnaire (SRQ-20), enquanto a exposição à violência foi avaliada a partir da pergunta: você sofreu, nos últimos 12 meses, alguma agressão no seu trabalho? Tal questão faz parte do bloco X, específico sobre agressões e violências no trabalho, do questionário estruturado. Os aspectos psicossociais do trabalho foram avaliados por meio da escala de Desequilíbrio Esforço-recompensa (ERI). Resultados: A amostra final deste estudo consistiu em 1.011 participantes, respondentes dos questionários utilizados e com informações completas acerca das variáveis de interesse. A prevalência de TMC entre trabalhadores/as da saúde da atenção primária e média complexidade foi de 40,8%. Trabalhadores/as expostos a situações violentas apresentaram 2,2 vezes maior chance de apresentarem o desfecho (OR = 2,28; IC 95% 1,44- 3,59), mesmo após ajuste para fatores de confusão. Fatores psicossociais do trabalho como desequilíbrio esforço e recompensa, e comprometimento excessivo também estiveram associados positivamente aos TMC. Conclusão: Os achados confirmam a hipótese de que a violência no trabalho em saúde, no contexto pós-pandemia de COVID-19, está associada aos TMC, sendo a violência um fator de risco à saúde independente. Os resultados são consistentes com a literatura prévia de outros países e de outros contextos. Demonstrou-se também alta prevalência de TMC entre os trabalhadores/as da saúde da atenção primária e média complexidade, o que aponta para a necessidade de ações preventivas e de promoção da saúde para esse grupo de trabalhadores/as no âmbito do Sistema Único de Saúde. Diferentemente de fatores sociodemográficos e de perfil ocupacional, que não se associaram ao desfecho, os 11 estressores psicossociais do trabalho, como o desequilíbrio entre esforços e recompensas e o comprometimento excessivo também merecem atenção, tendo apresentado medidas de efeito de grande magnitude, o que sugere que as intervenções que minimizem a violência no trabalho e seus possíveis efeitos na saúde mental devem focar na organização do trabalho e nos determinantes sociais da saúde.