Por uma lua inteira: o processo de reinserção escolar do aluno com anemia falciforme após crise, com foco nas ações pedagógicas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Castro, Antonilma Santos Almeida
Orientador(a): Barros, Alessandra Santana Soares e
Banca de defesa: Guedes, Cristiano, Pimentel, Susana Couto, Gonçalves, Marilda Souza, Bastos, Edinalma Rosa Oliveira
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Faculdade de Educação
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Educação
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/18421
Resumo: Esta pesquisa trata das implicações da anemia falciforme (AF) no contexto educacional, especificamente na ambiência escolar, partindo do entendimento de que a saúde não se sustenta na ausência de doença e que a educação deve se ancorar em bases que propiciem a reflexão, a emancipação e a participação do sujeito nos processos formativos. O objetivo da pesquisa foi analisar o processo de reinserção escolar do aluno com AF após crise, focalizando as ações pedagógicas a ele dirigidas. Os princípios teórico-metodológicos se direcionaram para a pesquisa qualitativa, por meio do estudo de multicasos etnográficos. Foram utilizados como técnicas de coleta: observação, entrevista, questionário e análise documental. Seis escolas municipais e uma instituição de saúde pública (amostra intencional) serviram de lócus de pesquisa. Professores, coordenadores, diretores e mães constituíram-se sujeitos do estudo. Para a análise dos dados, buscou-se os dispositivos da análise de discurso da corrente francesa para dialogar com as vozes teóricas da educação especial na perspectiva inclusiva. O referencial teórico transitou no âmbito da saúde e da educação, focalizando, no campo da saúde, a abordagem socioantropológica e, no campo educacional, a perspectiva crítica reflexiva. O desenvolvimento do estudo possibilitou compreender que há duas questões que demarcam diferentemente a abordagem escolar da AF: a primeira é a existência de alguns estigmas visíveis (olhos amarelados, fraqueza muscular); a segunda se refere à questão da qualidade incapacitante (dor, déficit de memória, cansaço) da doença, não visibilizada. Para a escola/professor, a diferença só é visualizada/percebida quando acompanhada por marcas visíveis. Dizendo de outra forma, aquilo que é visível para o aluno com AF não diz a quem olha por fora, muito das suas limitações. Estas, por sua vez, não são facilmente deduzíveis pela apreciação externa. Por essas razões, as implicações da AF são confundidas com preguiça, passividade, timidez e abandono deliberado do sujeito que é, simultaneamente, sadio e doente. Os resultados evidenciam que a condição da gravidade da AF e, consequentemente, da sua complexidade no que tange à abordagem escolarizante dos alunos com essa anemia está silenciada, porque a morbidade da AF não é tão explícita quanto às outras doenças crônicas, a exemplo do câncer, diabetes e fibrose cística. Assim este estudo conclui que a escola/professor ou transfere a responsabilidade da ação pedagógica para a família, ou favorece a progressão graciosa ou, ainda, ignora disfarçadamente as necessidades educacionais do aluno. Conclui ainda que o silenciamento diante da AF emerge como problema educacional em um momento da história brasileira da Educação especial/Inclusiva em que o aluno com doença crônica vive em uma espécie de limbo classificatório: nem é doente agudo, por mais grave e demorado que seja o processo de crise, nem é deficiente, do qual não se espera o retorno à normalidade. Esse aspecto reflete a sobrecarga da escola, imbuída de múltiplas missões tais como: educar para a cidadania, educar para o mercado profissional, educar para humanizar entre outras a ela delegadas.