Itinerários escolares e experiências universitárias de filhas de famílias matrifocais: a insubordinação às profecias

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Barbosa, Jacira da Silva
Orientador(a): Sampaio, Sônia Maria Rocha
Banca de defesa: Sampaio, Sônia Maria Rocha, Urpia, Ana Maria de Oliveira, Santos, Georgina Gonçalves dos, Vasconcelos, Letícia Silveira, Carneiro, Virgínia Teles
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: INSTITUTO DE PSICOLOGIA
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós Graduação em Psicologia
Departamento: Não Informado pela instituição
País: brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/32646
Resumo: Este estudo, vinculado ao Observatório da Vida Estudantil (OVE), analisou histórias de bom desempenho escolar nas trajetórias vivenciadas, até o início da vida adulta, com o ingresso na universidade pública, por jovens universitárias que nasceram em contextos adversos, especificamente em famílias matrifocais pobres, e como os diversos ambientes de desenvolvimento contribuíram para a sua longevidade escolar e acadêmica. Com foco na Psicologia do Desenvolvimento, esfera em que se abriga este doutorado, teço reflexões a partir da Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano de Urie Bronfenbrenner, perspectiva teórica que discute os processos de interação da pessoa nos diversos sistemas sociais humanos, sendo útil na compreensão da família como contexto relacionado a outros contextos de influência. Pela própria complexidade e especificidade da temática em estudo, esta tese tem um caráter interdisciplinar e, além dos referenciais supracitados, dialoga com outras áreas de saber, como a sociologia, a filosofia e a antropologia. De forma análoga, os dados empíricos evidenciaram a necessidade e a importância de retomar o debate acerca de três principais eixos de dominação que se intersectam e recortam uns aos outros – gênero, raça e classe social, sendo por isso aqui também discutida a questão da interseccionalidade, referência fundamental do feminismo negro. Esta investigação teve delineamento qualitativo, pautado em estudo de casos. Foram realizadas entrevistas reflexivas com seis estudantes do sexo feminino, beneficiadas pelas Políticas de Ações Afirmativas, de três instituições públicas do Estado da Bahia: UFBA, IFBA e UNEB, que viveram, desde a infância, em lares matrifocais. A investigação também incluiu entrevistas com as mães das estudantes no sentido de conhecer suas contribuições para a longevidade escolar das filhas, e tratar a complexidade desse processo no contexto de realidades familiares de mulheres negras e pobres. A análise dos dados produzidos ao longo das entrevistas foi dividida em distintas seções de forma a compreender e ressaltar os significados ordinários e idiossincráticos, pessoais e coletivos das trajetórias das participantes nos diferentes ambientes onde vivem suas vidas. A análise contextual dos resultados nos permitiu perceber diversos pontos referentes aos desafios e limites rotineiros impostos às estudantes e às suas famílias ao longo dos anos na luta pela manutenção de sua subsistência nos sistemas interligados de desenvolvimento, no interior de uma sociedade capitalista, patriarcal e racista. Contudo, a ênfase maior desta investigação foi direcionada para ressaltar as potencialidades, as virtudes, as forças e os recursos por elas desenvolvidos e utilizados para fazer frente àqueles desafios, tais como o cuidado materno, a determinação, a perseverança, a rede de apoio e de solidariedade, a coesão da relação mãe-filha, a espiritualidade, a fé e a esperança. Esses elementos foram imprescindíveis para o ingresso e permanência das estudantes na educação superior pública, ainda hoje um privilégio de renda, cor e origem social. Palavras-chave: ações afirmativas; desenvolvimento humano; família matrifocal; feminismo negro; gênero; interseccionalidade; racismo; pobreza; trajetórias universitárias.