A agricultura familiar e a alimentação adequada e saudável: um estudo sobre práticas agroalimentares de famílias agricultoras do semiárido da Bahia, Brasil.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Paiva, Janaína Braga de
Orientador(a): Trad, Leny Alves Bomfim
Banca de defesa: Cunha, Litza Andrade, Santos, Ligia Amparo da Silva, Azevedo, Elaine de, Santos, Diana Anunciação
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Instituto de Saúde Coletiva
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduação em Saúde Coletiva
Departamento: Não Informado pela instituição
País: brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/26559
Resumo: Este estudo toma como ponto de partida um conjunto de referências acadêmicas e institucionais que estabelecem uma relação necessária entre a agricultura familiar e a alimentação adequada saudável. O fortalecimento da agricultura familiar é apontado como uma estratégia relevante à promoção da saúde e da alimentação adequada e saudável, quando consideram-se as possibilidades de utilização de modelos produtivos de baixo impacto ambiental e as características dos alimentos produzidos por este grupo social. O presente estudo buscou analisar práticas agroalimentares de famílias agricultoras do semiárido baiano tendo em vista discutir sobre os alcances e as possibilidades, bem como sobre as tensões e as controvérsias, na produção do alimento adequado e saudável. No que se refere à investigação sobre tais práticas, foram utilizadas duas estratégias de produção dos dados. A primeira tratou de narrativas produzidas a partir de nove grupos focais realizados entre os anos de 2011-12 com 97 agricultores familiares participantes de Projeto de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER). A segunda e principal estratégia metodológica, consistiu em um estudo etnográfico em uma das comunidades participantes do referido projeto, situada no município de Queimadas, Território do Sisal, Bahia, Brasil. Esta etapa foi realizada em 2015, com imersão continuada na comunidade, através da observação participante e entrevistas semiestruturadas, focalizando, particularmente a experiência de duas famílias agricultoras, uma que produzia alimentos perto do rio Itapicuru e outra que produzia longe do rio, com estratégias para lidar com a escassez da água. Os resultados foram organizados de acordo com os alimentos produzidos e consumidos por estas famílias, a saber: milho, mandioca, feijão, produtos de origem animal (carnes, leite, ovos e mel) e frutas, verduras e legumes (FVL). Para cada alimento ou grupo de alimentos foram destacados temas relevantes de acordo com as discussões contemporâneas dos campos da saúde coletiva, da segurança alimentar e nutricional e da alimentação e nutrição, a saber: agroecologia, agrobiodiversidade, orgânicos, agrotóxicos, transgênicos e mudanças climáticas. Apesar de serem considerados “externos” ou não próprios à agricultura familiar, os produtos do agronegócio e das inovações tecnológicas próprias a este campo não estão distantes e são consumidos no cotidiano das famílias. Conhecimentos gerados a partir das inovações tecnológicas são bem aceitos e novas habilidades são adquiridas simultaneamente às transformações dos alimentos, utensílios e equipamentos. Assim, analisa-se que diferentes modelos de produção estão conectados e que a agricultura familiar contemporânea, mesmo participando predominantemente dos circuitos curtos de produção, integra o sistema alimentar hegemônico e as cadeias de abastecimento globais ao consumir cultivos comerciais e outros produtos de origem não familiar. Portanto, a agricultura familiar no semiárido baiano pode ser caracterizada como um híbrido entre variados modelos de produção ou formas de cultivo, vinculados a um emaranhado de conexões vindas de outros tempos e lugares. No entanto, ela também tem a possibilidade de produzir alimentos pautados em princípios da agroecologia. Destaca-se que para serem mantidas as estratégias e os projetos com viés agroecológico é preciso que estes sejam viáveis do ponto de vista econômico, de forma a garantir o sustento da família. Quanto à noção da alimentação adequada e saudável, marca-se que ela vem ao longo do tempo passando por ressignificações. Assim, o que antes estava fortemente vinculado à valorização do componente nutricional dos alimentos, hoje inclui várias outras dimensões como os modelos de produção de alimentos com base em princípios da agroecologia, a alimentação enquanto um direito humano, bem como questões relacionadas a cultura, prazer, hábitos, comensalidade, regionalidade, etnia, gênero, além do acesso, da sustentabilidade e da biodiversidade. Por fim, questiona-se se o ideal da alimentação adequada e saudável como proposta institucionalmente é possível de ser alcançada ou promovida, uma vez que as práticas agroalimentares das famílias agricultoras do semiárido mostram que os mais diversos modelos e sistemas alimentares se interconectam.