"Criada, não, empregada!": contrastes e resistências sob a vigília dos patrões na regulamentação do trabalho doméstico livre ao final do século XIX em Salvador

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Barreto, Marina Leão de Aquino
Orientador(a): Sampaio, Gabriela dos Reis
Banca de defesa: Sampaio, Gabriela dos Reis, Mata, Iacy Maia, Castellucci, Aldrin
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em História
Departamento: Não Informado pela instituição
País: brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/31929
Resumo: Em 5 de janeiro de 1887, um conjunto de posturas para disciplinar o trabalho doméstico, em Salvador, foi publicado pela Câmara Municipal da cidade. Inspirado numa sucessão de regulamentos aprovados em outros lugares do Brasil e do mundo, estabelecia que os criados de servir fossem matriculados na Secretaria de Polícia e retornassem, anualmente, para atualização dos dados da matrícula. A normativa regia diversos aspectos das relações de trabalho, entre os empregadores e os trabalhadores domésticos, que viviam contexto de tensão, entre a necessidade de controle, por parte dos patrões, em um processo de abolição iminente, e a conquista de direitos e o sentimento de liberdade, por parte dos criados. É importante frisar o acirramento do conflito, em decorrência do crescente racismo científico e clima de suspeição aos trabalhadores. A necessidade de inscrição resultou em um conjunto de 897 matrículas, cujos dados são extremamente ricos, contendo diversas informações pessoais sobre os trabalhadores, acompanhadas de uma minuciosa descrição física, bem como o nome e endereço dos empregadores. Isto permitiu a realização de análises sobre possíveis clivagens de gênero, classe e raça dentro da própria categoria dos criados de servir. A profissão mais comum, também aquela presente na maioria das casas ou estabelecimentos dos empregadores, foi a de cozinheira, abrigando nela grande quantidade de matriculadas de cor preta. As profissões mais brancas tendiam a ser aquelas mais especializadas, como costureiras e jardineiros, por exemplo, alugados geralmente em casas, que já tinham à sua disposição principalmente a cozinheira. Em sobreposição a esta forte clivagem de cor, havia também uma clara diferenciação de gênero. Apesar de haver profissões ocupadas, tanto por homens quanto por mulheres, a maior parte delas era restrita a um dos grupos. Estes resultados refletem, igualmente, o que se observa hoje na caracterização geral do serviço doméstico: mulheres pretas confinadas aos trabalhos de cozinha, enquanto homens brancos ocupando posições que deram origem a categorias de trabalho, hoje destacadas do conceito de trabalhador doméstico (como os trabalhos de hotelaria e limpeza em estabelecimentos comerciais). Por fim, ainda que num contexto de constante vigilância e monitoramento, por parte dos patrões, estes trabalhadores domésticos do final do século XIX conseguiram manter seus grupos de sociabilidade e suas famílias, encontrando nestas relações de solidariedade o amparo imprescindível para a cotidiana resistência, necessária à construção de suas próprias liberdades.