Estudo da tríplice epidemia de Zika, Dengue e Chikungunya em Feira de Santana – Bahia.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Skalinski, Lacita Menezes lattes
Orientador(a): Teixeira, Maria Gloria Lima Cruz
Banca de defesa: Cunha, Rivaldo Venâncio da, Nery, Joilda Silva, Costa, Maria da Conceição Nascimento, Teixeira, Maria da Glória Lima da Cruz, Santos, Marcos Pereira, Costa, Pollyanna Alves Dias
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Bahia. Instituto de Saúde Coletiva
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC-ISC)
Departamento: Instituto de Saúde Coletiva - ISC
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/37941
Resumo: Introdução: A emergência e re-emergência de agentes infecciosos transmitidos por mosquitos vetores tem se configurado como um grande desafio para a Saúde Pública Global e, em particular, para o Brasil. Este país, após a re-emergência do vírus do dengue (DENV), passou a apresentar epidemias sucessivas de grande magnitude desta virose desde 1986. A partir da segunda metade de 2014, com a emergência dos vírus chikungunya (CHIKV) e Zika (ZIKV), foi estabelecida a circulação simultânea em espaços intra-urbanos destes três arbovírus, delineando uma situação epidemiológica nunca registrada no mundo ocidental. Esta Tese teve como objetivo investigar características epidemiológicas da circulação simultânea dos vírus Zika, dengue e chikungunya no Centro Urbano de Feira de Santana-BA. Artigo I – Objetivo: Estimar a soroprevalência do CHIKV em diferentes países. Métodos: Foi realizada a revisão sistemática de artigos publicados até 2020 nas bases Pubmed, Embase, Lilacs, Scopus e Web of Science. Foram incluídos estudos transversais, de coorte e caso-controle, que apresentassem confirmação laboratorial de infecção prévia, ou prévia e recente e excluídos aqueles conduzidos com participantes sintomáticos. Resultados: Foram identificados 596 artigos, 197 foram lidos integralmente e 64 incluídos na análise, de onde foram extraídos 71 estudos de soroprevalência, visto que alguns apresentavam mais de uma população estudada. A maioria dos estudos foi transversal (92%), conduzidos entre 2001 e 2020 (92%), com população de todas as idades (55%), no Kênia, Brasil e Polinésia Francesa. As soroprevalências estimadas foram 24% (IC95% 19-29; I2=99.7%; p<0.00), sendo 21% (IC95% 13-30; I2=99.5%; p<0.00) em adultos, 7% (IC95% 0-23; I2=99.7%; p<0.00) em crianças e 30% (IC95% 23-38; I2=99.7%; p<0.00) em todas as idades. As maiores soroprevalências foram encontradas na África e nas Américas. Artigo II – Objetivo: Estimar a soroprevalência da infecção pelo CHIKV em um grande centro urbano do Brasil e investigar a relação entre circulação viral e condições de vida. Métodos: Estudo ecológico de base populacional em 30 Áreas Sentinela de Feira de Santana, conduzido através de entrevistas domiciliares e inquérito sorológico entre 2016 e 2017. Os participantes tiveram amostra de sangue venoso coletada para realização dos testes sorológicos de chikungunya IgM e IgG. Resultados: 1.981 participantes foram randomicamente selecionados entre os 16.620 entrevistados. A soroprevalência encontrada foi de 22,1% e variou de 2,0% a 70,5% entre as Áreas Sentinelas. A soroprevalência foi significativamente menor em áreas de melhores condições de vida quando comparadas às áreas de baixa condição de vida. Foi encontrada correlação entre a soroprevalência de CHIKV e a densidade populacional (r=0,24; p=0,02). Artigo III – Objetivo: analisar a difusão espacial da circulação simultânea de três arbovírus transmitidos pelo mesmo vetor em um grande centro urbano, durante duas ondas epidêmicas, em dois anos consecutivos. Métodos: Estudo ecológico de agregados espaciais e temporais dos casos notificados de dengue, chikungunya e Zika, de 2014 a 2019 em Feira de Santana. Os dados foram coletados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação/SINAN e os casos foram georrefenciados na malha urbana do município. Foram aplicados quatro métodos de análise espacial: Estimativa de Kernel com mapas sequenciais, Índice do Vizinho Mais Próximo acumulado no tempo, correlogramas espaciais e mudanças na Autocorrelação Local. Resultados: Entre 2014 e 2019, foram notificados 21.723 casos confirmados das três arboviroses. As maiores incidências foram entre mulheres (496,9, 220,2 e 91,0 casos/100.000 mulheres para dengue, chikungunya e Zika respectivamente). As faixas etárias de maior incidência de dengue foram de 10 a 19 anos (609,3 casos/100.000), de chikungunya 60 anos e mais (306,7 casos/100.000), e Zika de 0 a 9 anos (124,1 casos/100.000). A análise temporal evidenciou duas ondas epidêmicas de circulação simultânea em 2014 e 2015. Os métodos espaciais mostraram que dengue, chikungunya e Zika apresentaram padrão de difusão por expansão. Conclusão da Tese: Constatou-se uma grande heterogeneidade das soroprevalências de CHIKV entre diferentes países e entre populações intra-urbanas, possivelmente resultante da complexidade dos fatores envolvidos na modulação da transmissão deste arbovírus; entre eles o tempo de circulação do vírus, a susceptibilidade populacional, a ausência de vacinas eficazes, a disponibilidade de criadouros e a alta densidade demográfica. Essa diversidade de fatores, bem como a inexistência de medidas efetivas para controle do seu principal vetor, propiciaram o alarmante cenário epidemiológico de Feira de Santana. Nesse centro urbano, as condições climáticas e socioeconômicas da população foram extremamente receptivas à introdução e rápida circulação de CHIKV e ZIKV onde o DENV já circulava de forma endemo-epidêmica, e colaboraram para que essas arboviroses continuem se constituindo em importantes problemas de Saúde Pública.