O sertão por escrito no Livro de Razão: um microcosmo sócio-histórico e linguístico da Bahia rural oitocentista.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Jesus, Adilson Silva de lattes
Orientador(a): Souza, Emília Portella Monteiro de lattes
Banca de defesa: Lose, Alicia Duhá lattes, Lacerda, Mariana Fagundes de Oliveira lattes, Abreu, Ricardo Nascimento lattes, Sousa, Ione Celeste de Jesus lattes, Souza, Emília Helena Portella Monteiro de
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Bahia
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura (PPGLINC) 
Departamento: Instituto de Letras
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/37851
Resumo: Esta tese, que se insere na área de Linguística Histórica do Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura, tem como objetivos (i) realizar a edição semidiplomática do Livro de Razão, manuscrito de foro privado, que pertenceu à família Pinheiro/Canguçu, na Bahia rural oitocentista, com base na edição fac-similar - reprodução fotográfica realizada por Jorge Viana Santos, para o projeto Corpus Eletrônico de Documentos Históricos do Sertão, da UEFS - e (ii) analisar as práticas de escrita realizadas no espaço rural da Fazenda do Campo Seco, em Bom Jesus dos Meiras, atual cidade de Brumado. O estudo empreendido concentrou-se na análise sócio-histórica do contexto de produção do escrito nesse ambiente, na elaboração do perfil social dos scriptores e no estudo descritivo dos índices grafemático-fonéticos identificados na escrita desses scriptores, visando contribuir para a história social linguística do Brasil. Considerando que “Toda língua é feita de camadas diversas [...]. Explicar uma língua é, ao menos em parte, compreender sua história.” (MARTIN, 2003, p.141), a tese apresenta uma abordagem interdisciplinar, valendo-se do aparato teórico-metodológico da Linguística Histórica (MARTIN, 2003; MATTOS E SILVA, 2008; FARACO, 2005), da Filologia (SPINA. 1977; CAMBRAIA, 2012; PAIXÃO DE SOUZA, 2013; TELLES, 2016; LOSE, 2017) e das vertentes oriundas da ruptura do paradigma historiográfico tradicional, a saber: a História Social da Cultura Escrita (PETRUCCI, 1993, 1999, 2003; CASTILLO GÓMES, 2003) e a Micro-História (GINZBURG, 1987; BURKE, 1992, VAINFAS, 2002; MATTOS E SILVA, 2004; BARROS, 2005) para descortinar o sertão baiano dos oitocentos. A Linguística Histórica tem por função primordial buscar explicações, no passado, para fatos linguísticos do presente, por meio dos documentos remanescentes, que registram dados de língua. É nesse contexto que o labor filológico entra em cena, uma vez que, até mesmo “os documentos escritos que nos parecem, tantas vezes transparentes e de fácil compreensão, nos ameaçam com armadilhas diversas embutidas em cada palavra.” (LOPES et al 2017, p. 96). Desse modo, a Filologia se revela como um instrumento muito importante para o estudo linguístico, pois é a responsável pelo estabelecimento do texto, que nos leva aos dados de língua (TELLES, 2016, p. 195). Por sua vez, a História Social da Cultura Escrita e a Micro-História apresentam-se como mecanismos capazes de garantir a reconstituição de práticas de leitura e escrita em espaços oficiais e extraoficiais, com ênfase na materialidade do escrito e na reconstituição das histórias parciais narradas pelos manuscritos do passado, no caso específico – o Livro de Razão – objeto de estudo. Os resultados encontrados revelam, no campo linguístico, a variação grafofonética no sertão oitocentista, evidenciando usos do português brasileiro falado por diferentes classes sociais, na sincronia atual, nas diversas regiões do Brasil, independente do nível de escolarização. No que se refere ao contexto sócio-histórico, a instrumentalização da edição, lastreada por um diálogo profícuo entre a História Social da Cultura Escrita e a Micro-História, possibilitou a aproximação da “lupa” para as experiências individuais e localizadas, como é o caso dos senhores do Campo Seco, e ofereceram-nos um microcosmo sócio-histórico e linguístico do sertão oitocentista.