Tempo perdido e reinventado: memória e contingência em literatura e psicanálise

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2004
Autor(a) principal: Coutinho, Denise
Orientador(a): Fraga Filho, Cid Seixas
Banca de defesa: Fraga Filho, Cid Seixas, Herrera, Antonia Torreão, Salah, Jacques Abd-El-Krim Saidi, Costa, Jurandir Freire, Laia, Sérgio Augusto Chagas de
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Instituto de Letras
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Letras e Lingüística
Departamento: Não Informado pela instituição
País: brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/29264
Resumo: Apresenta-se uma contribuição teórica aos estudos literários, articulando Literatura e Psicanálise, práticas da letra e da escritura. Memória e contingência são dois nomes desta conjugação. Memória é operação psíquica que inclui, necessariamente, o par lembrança-esquecimento. A contingência é uma modalidade lógica definida por Aristóteles como ausência e presença de um argumento sem corrupção do sujeito. À la recherche du temps perdu e o Projeto de uma psicologia fornecem esboços muito semelhantes da cartografia psíquica do homem contemporâneo, demonstrando que a escritura é feita de traços de memória, reatualizados por fatos contingentes e sobredeterminados pela cadeia significante. Tomar a função da arte como “inexprimir o exprimível” (Barthes), é levar em consideração que a escritura, construída em análise ou numa produção literária, opera mediante a perda. Isto se dá por razões de estrutura, pois sua matéria é o furo constitutivo da linguagem. Formulado pela psicanálise e incorporado à literatura contemporânea, o inconsciente apresenta sua estrutura de linguagem ¾ sob a forma de letra, fonema, palavra, frase, chiste, sonho, sintoma, lapso ¾ na escritura. Os trabalhos de Proust e Freud indicam algumas conclusões. Como a percepção é condicionada pelo desejo e sustentada na configuração fantasmática, o aparelho de memória articula-se com a verdade do sujeito pela via da linguagem, da ficção. Os traços inscritos não possuem significação prévia, passado é sempre reconstrução. A escritura literária diz respeito ao gozo ligado ao atravessamento do corpo, produzindo um sujeito modificado por este corte. Esta nova produção discursiva não constitui criação ex-nihilo, mas provém de um modo diferente de repetir, aqui chamado invenção. O símbolo separa o sujeito da Coisa, tornando o real impossível de ser apreendido. Através da contingência dos fatos de linguagem, a escritura transforma o impossível de dizer em ditos que ecoam e produzem efeitos objetivos, subjetivos, éticos e estéticos na cultura. Num movimento de retorno sobre a operação de simbolização, o escritor descasca a palavra de seus sentidos acomodados, fazendo-a readquirir, no limite, sua materialidade visual e acústica, borrada pelas lembranças, sempre recobridoras. Memória é, portanto, o tempo perdido e reinventado na escritura.