A cor das elites: questão racial e pensamento social através da trajetória intelectual de Thales de Azevedo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Sangiovanni, Ricardo Fagundes
Orientador(a): Carvalho, Maria Rosário Gonçalves de
Banca de defesa: Negro, Antonio Luigi, Romo, Anadelia, Sansone, Livio, Pinho, Osmundo, Sangiovanni, Ricardo Fagundes
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - Centro de Estudos Afro-orientais
Programa de Pós-Graduação: Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/31282
Resumo: Esta tese tem como objeto a questão racial na trajetória intelectual do cientista social baiano Thales de Azevedo (1904-95), tomando como foco seu mais famoso livro sobre esse assunto, Les élites de couleur dans une ville brésilienne, traduzido em português como As elites de cor: um estudo de ascensão social, orginalmente publicado em 1953, pela Unesco. Assumindo referencial teórico que remete à sociologia e à história social dos intelectuais, e com base na compilação e análise de um amplo conjunto de fontes documentais de arquivos localizados no Brasil e nos Estados Unidos, o trabalho apresenta e discute as condicionantes políticas, ideológicas, intelectuais, institucionais e religiosas que, imbricadas, conformaram-se no modo como aquele autor descreveu e refletiu sobre a questão racial na Bahia e no Brasil. Dividido em três capítulos, o trabalho discute, inicialmente, as circunstâncias sob as quais se confeccionou o referido livro, com ênfase na agenda político-ideológica da Unesco nos primeiros anos da Guerra Fria, que influenciou as pesquisas sobre relações raciais no Brasil patrocinadas pelo organismo internacional nos anos 1950. A pesquisa evidenciou o interesse manifesto da Unesco em enaltecer uma suposta singularidade benfazeja do contexto racial baiano, ante os cenários norte-americano e sul-africano de segregação racial, levado a cabo pela atuação do antropólogo suíço-americano Alfred Métraux, cuja ingerência sobre a pesquisa realizada por Thales de Azevedo mostrou-se acentuada. A seguir, buscou-se discutir os referenciais científico, ideológico e religioso assumidos por Thales de Azevedo ao longo da década de 1940, a fim de circunscrever agendas que presidiram o olhar que o autor lançaria sobre a questão racial na Bahia na etnografia de que a Unesco lhe encarregara. Restaram evidentes as influências da tese de Donald Pierson da Bahia enquanto “sociedade multiracial de classes” – autor cuja atuação na Bahia, nos anos 1930, é brevemente escrutinada – e da forte mentalidade anticomunista católica na atividade intelectual de Azevedo. Por fim, busca-se estabelecer nexos entre a agenda ideológica anticomunista e modernizadora norte-americana do pós-Segunda Guerra e a atuação política do governo Octavio Mangabeira, no âmbito do convênio entre a Universidade Columbia e o Estado da Bahia para a realização de pesquisas sociais, evidenciando a instrumentalização da questão racial no discurso modernizador-conservador das elites baianas. A pesquisa traz à tona a relação entre a agenda político-ideológica norte-americana, perceptível na atuação do antropólogo Charles Wagley na Bahia, e o discurso de exaltação ao modelo norteamericano de sociedade assumido por Thales de Azevedo ao longo das décadas de 1950 e 1960, escamoteando nexos entre racismo e desigualdade social, até 1975, quando o autor baiano se reposiciona criticamente em relação à questão racial na Bahia e no Brasil.