O jogo múltiplo do cordel na cultura brasileira

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Freire Junior, Orlando lattes
Orientador(a): Carrascosa França, Denise
Banca de defesa: Carrascosa França, Denise, da Silva Souza, Florentina, Silva Costa, Edil, Almeida Santos, Alvanita, Dias Matos, Edilene
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Programa de Pós-Graduação: Pós-Graduação em Literatura e Cultura (PPGLITCULT) 
Departamento: Instituto de Letras
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/36955
Resumo: O estudo registrado nesta tese parte da constatação de que a literatura de cordel brasileira se constituiu como modalidade cultural de múltipla inserção a partir do diálogo com produtos culturais diversos e a incorporação de textualidades associadas a diferentes contextos de produção. O cordel desliza por diferentes posições dentro do espectro também fortemente hierarquizado da cultura brasileira construída no âmbito de uma sociedade autoritária e atravessada por desigualdades impostas, entre outros fatores, por um racismo estrutural e por uma cultura machista e excludente. Essa múltipla inserção é aqui tratada como jogo múltiplo, a partir da inspiração na ideia de jogo associada por Muniz Sodré à cultura negra no Brasil e na imagem da ginga da Capoeira, para contemplar o esforço lúdico e combativo de cordelistas pertencentes a grupos subalternizados, sobretudo cordelistas negrxs e mulheres, com suas múltiplas representações de gênero, raça e sexualidade. Entende-se neste texto que esses cordelistas são responsáveis por construir um acervo poético/narrativo que, acossado por questões complexas impostas pela constante categorização do cordel como cultura popular, permanece ativo e potente como expressão de suas subjetividades desde os momentos iniciais da sedimentação da tradição cordelística, como atestam os folhetos de pelejas protagonizadas por poetas negrxs e mulheres. A ideia de jogo múltiplo sendo uma forma afro-brasileira de ler o cordel, faz com que esta escrita privilegie personagens conceituais cuja trajetória possa ser identificada com movimentos de superação da subalternidade, através do texto do cordel, e com o movimento estético e político do jogo múltiplo, como Inácio da Catingueira, Chica Barrosa, Zé Pretinho do Tucum, Dalinha Catunda, Janete Lainha Coelho, Jarid Arraes, Salete Maria da Silva, Chico César e Bule Bule, e desloca a leitura do cordel de uma base ibérica para uma perspectiva afrocentrada. Tal perspectiva, ancorada no movimento do jogo múltiplo, busca entender o cordel como artefato discursivo que informa as potências dessas subjetividades e que, ao mesmo tempo em que acessa a tradição escriptocêntrica, acrescenta a essa tradição o elemento afirmativo e contestatório das forças vitais da cultura da oralidade que são beneficiadas pela disposição lúdica e agonística das culturas negras no Brasil.