Significados e percepções de risco associados ao vírus zika pela população e por profissionais de saúde da cidade de Salvador.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Lima, Fernanda Macedo da Silva lattes
Orientador(a): Iriart, Jorge Alberto Bernstein
Banca de defesa: Caprara, Andrea, Iriart, Jorge Alberto Bernstein, Silva, Luís Augusto Vasconcelos da, Torrentè, Mônica de Oliveira Nunes de, Souza, Fernanda dos Reis
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Bahia. Instituto de Saúde Coletiva
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC-ISC)
Departamento: Instituto de Saúde Coletiva - ISC
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/40820
Resumo: O Brasil vivenciou uma grave epidemia provocada pelo vírus zika entre os anos de 2015 e 2016. A microcefalia em recém-nascidos foi a primeira alteração associada à infecção intrauterina pelo vírus zika, posteriormente outras malformações congênitas também foram identificadas, condição atualmente conhecida como a síndrome congênita do vírus zika. As repercussões desta epidemia sobre a vida da população brasileira geraram uma série de recomendações por autoridades de saúde, embasadas principalmente nos avanços dos conhecimentos clínicos e biomédicos adquiridos sobre a doença. Porém estas orientações pouco levaram em consideração o contexto social e cultural dos indivíduos e a sua influência sobre as formas de compreender e reagir a este problema de saúde. O entendimento dos processos socioculturais que permeiam essa nova realidade constituída após a epidemia é fundamental, visto que eles estão intimamente relacionados com os significados e percepções de risco atribuídos pela população a questões associadas à saúde e à doença. Estes elementos precisam ser melhor compreendidos, pois fornecerão subsídios para o entendimento dos sentidos atribuídos ao vírus zika pela população, além de qualificar os profissionais de saúde para que atuem de maneira adequada frente à realidade social e cultural da população sobre a qual se deseja intervir. Com base nessas premissas, esta tese objetivou compreender os significados, percepções de risco e práticas preventivas associados ao vírus zika pela população e por profissionais de saúde da cidade de Salvador-Bahia. Respondeu-se a este objetivo através de três artigos. Artigo 1 – Revisão narrativa da literatura, com a finalidade de analisar e descrever a literatura existente acerca das percepções, conhecimentos, atitudes e práticas preventivas da população e dos profissionais de saúde sobre o vírus zika. Os principais achados desta investigação evidenciam que após aproximadamente sete anos do início da epidemia do vírus zika, houve uma vasta produção científica acerca desta temática. Entretanto, algumas lacunas permanecem, como a ausência de estudos no Brasil e limitados trabalhos na literatura internacional que investiguem as percepções, conhecimentos e orientações sobre o vírus zika desenvolvidos por profissionais de saúde. Além disso, há uma escassa produção científica que analise a participação masculina nas práticas preventivas no contexto de epidemia do vírus zika. Portanto, faz-se necessário superar essas lacunas que ainda persistem na literatura científica em razão da relevância desses grupos na disseminação de conhecimentos e orientações em saúde, bem como no desenvolvimento de práticas preventivas efetivas no contexto do vírus zika; Artigo 2 – Análise dos conhecimentos, significados, percepções de risco e práticas preventivas associados ao vírus zika por homens e mulheres de distintas camadas sociais da cidade de Salvador-Bahia em um contexto pós-epidemia. Este artigo possui uma abordagem qualitativa e foi desenvolvido a partir de grupos focais e entrevistas semiestruradas, sob uma perspectiva socioantropológica. Para isso, foram realizados oito grupos focais com mulheres de 18 a 45 anos de diferentes origens socioeconômicas e oito entrevistas semiestruturadas com parceiros masculinos de mulheres em idade reprodutiva, também da faixa etária de 18 a 45 anos e de diferentes contextos socioeconômicos. Os principais achados deste trabalho evidenciam que ainda persistem insuficiências no conhecimento, dúvidas e incertezas sobre aspectos relevantes da doença causada pelo vírus zika entre todos os grupos entrevistados. Além disso, foi possível identificar a existência de variações nos significados, percepções de risco e estratégias preventivas relacionadas à infecção pelo vírus zika entre os gêneros, estratos sociais e faixas etárias dos participantes da pesquisa. Apesar dos homens reconhecerem o vírus zika como uma doença “perigosa” que produz “consequências críticas”, houve uma percepção de que as mulheres eram mais vulneráveis a essa patologia, pois suas consequências se concentraram principalmente na primeira infância, o que tangencia sobretudo o universo feminino em termos de responsabilidade e preocupação, refletindo a desresponsabilização masculina sobre esse aspecto. Além disso, a falta de conhecimento dos homens sobre a transmissão do vírus por via sexual fez com que eles não se engajassem adequadamente nas práticas de prevenção, o que aumenta o risco de infecção das parceiras e seus possíveis desfechos fetais. Já as mulheres referiram um grande “pavor” e “desespero” por vivenciarem esse novo cenário em um local endêmico para o Aedes aegypti, onde a presença do mosquito pressupunha constantemente a ocorrência da microcefalia. Essa percepção de risco foi mais exacerbada entre mulheres da faixa etária de 31-45 anos, pelo desejo de engravidar em um cenário próximo ou conviver com mulheres grávidas e entre as de menores estratos socioeconômicos, por conta das vulnerabilidades socioambientais enfrentadas nos bairros populares. Esta apreensão as motivou a se envolverem em medidas preventivas, embora as mulheres de menores estratos socioeconômicos tenham referido uma maior dificuldade para acessar os dispositivos de proteção, como o repelente, pelo seu alto custo, o que torna esse público mais vulnerável à infecção; Artigo 3 – Compreensão das percepções, conhecimentos e orientações desenvolvidas por profissionais de saúde da cidade de Salvador-Bahia sobre o vírus zika em um contexto pós-epidemia. Este artigo também possui uma abordagem qualitativa, realizado sob o prisma socioantropológico e desenvolvido a partir de treze entrevistas semiestruturadas com várias categorias de profissionais de saúde da atenção primária à saúde, por serem classificados como referência na comunidade para transmitirem informações sobre o vírus zika, influenciando a maneira como a população percebe e responde a esta nova doença. Os dados produzidos demonstraram insuficiências no conhecimento dos profissionais de saúde sobre aspectos importantes da infecção pelo vírus zika, apesar da coleta de dados ter ocorrido aproximadamente um ano após o término da epidemia no Brasil. Em relação às orientações em saúde, a comunicação de risco adotada nas campanhas de educação em saúde e políticas de prevenção empreendidas pelos profissionais de saúde evidenciaram seu alcance limitado, em especial entre os grupos populacionais que possuíam maior probabilidade de desenvolverem a doença. Orientações direcionadas prioritariamente para o controle do risco individual são pouco sensíveis às especificidades existentes entre os distintos contextos sociais. Assim, os profissionais de saúde reconheceram a necessidade de considerar os determinantes sociais como o contexto socioeconômico, político e ambiental que os indivíduos estão inseridos, por propiciarem distintos níveis de suscetibilidade ao adoecimento e, a partir disso, investir em práticas efetivas para assegurar a saúde da população. Portanto, com base nos resultados desta pesquisa, espera-se contribuir para o aprimoramento de futuras ações em saúde, para que sejam devidamente compreendidas, abordem as preocupações das pessoas sobre a doença e possam dar suporte à tomada de decisão com segurança pela população.