MULHERES NA TEIA AUTOBIOGRÁFICA – ENTRELAÇANDO MEMÓRIAS, TRAMANDO IDENTIDADES: NARRATIVAS DE PROSTITUTAS

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Peixinho, Manuela Cunha
Orientador(a): Vieira, Nancy Rita Ferreira
Banca de defesa: Hoisel, Evelina de Carvalho Sá, Garcia, Paulo César Souza, Moreira, Jailmo dos Santos Pedreira, Souza, Carla Dameane Pereira de
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Instituto de Letras
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/28844
Resumo: Alicerçada na concepção fragmentária do indivíduo, proposta pelos Estudos Culturais, essa tese aponta que, para além de estereótipos estanques, as prostitutas possuem múltiplas e complexas negociações identitárias, dentro e fora de seu ofício, as quais rasuram estereótipos da doxa sócio-cultural. Para tanto, são analisadas seis autobiografias de mulheres brasileiras – em que o mote da escrita é o fato de serem prostitutas, mas que, ao mesmo tempo, ultrapassam os limites dos quartos em seus escritos – dentre as quais duas são de Gabriela Leite (Eu, mulher da vida e Filha, mãe, avó e puta), uma de Vanessa de Oliveira (O diário de Marise), Paula Lee (Alugo meu corpo), Dommenique Luxor (Eu, Dommenique) e Lola Benvenutti (O prazer é todo nosso). Assim, o estudo se bifurca em dois blocos teóricos, que se entrecruzam na análise. Em um bloco, reflete-se acerca da produção autobiográfica, demarcando suas especificidades, no que tange à ponderação das vivências para além da enumeração de ocorridos, assim a escrita é um espaço de avaliação; ao lugar do autor em uma época de midiatização do eu; à relação cambiável entre os tempos e a memória; além do papel do mercado editorial na proliferação de autobiografias de sujeitos da margem, iniciados ainda no final do século passado; e, por fim, a invenção de si através da elaboração de um eu múltiplo: autor, personagem, narrador, transfigurados na linguagem. No outro bloco teórico, discutem-se três importantes polarizações que contribuem para uma figuração negativa da meretriz: primeiro, a hierarquia entre os gêneros, estabelecida e mantida pelo biopoder; segundo, a dicotomia construída entre as prostitutas e as outras mulheres, como se a primeira perdesse seu lugar na categoria mulher; e terceiro, a visão ora vitimizada, ora romantizada da prostituição. Estas três concepções de enrijecimentos dos gêneros obliteram as nuances da subjetividade do indivíduo, de maneira a segregar todos aqueles que forem contra as normas estabelecidas pela naturalização dos papéis de cada um. A partir da ótica desconstrutivista, observa-se como o discurso das próprias prostitutas rompem com os estereótipos de sua imagem, revelando seus múltiplos lugares sociais, apontando a complexidade de sua figura, mas, acima de tudo, ressaltando como elas se implicam em suas histórias. Ao escrever sobre si, empoderam-se, recusando-se a ser apenas contada (e julgada) pelos discursos médios, jurídicos, ou ainda pelas artes, os quais, muitas vezes, reiteram visões preconcebidas e limitadas destas mulheres. Assim, ampliando o olhar para as produções advindas daquelas que, após a moral cristã, escondiam-se nas sombras, a fonte memorialística se torna profícua, justamente por trazer a representação que cada uma tem de si, não necessariamente aquilo que se é ou foi, mas como elas se veem enquanto prostituta, enquanto mulher, enquanto indivíduo.