A construção de zonas lúdicas no hospital: transformações sobre tempo, espaço e rotinas por crianças

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Bahia, Priscila Mary dos Santos
Orientador(a): Bichara, Ilka Dias
Banca de defesa: Souza, Fabrício de, Pinto, Paula Sanders Pereira
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/23995
Resumo: A hospitalização infantil configura-se como uma realidade constante na vida de algumas crianças, principalmente aquelas portadoras de doenças crônicas. Desse modo, sugere-se que a instituição hospitalar também seja considerada um contexto de desenvolvimento infantil já que, além de serem submetidas às intervenções terapêuticas, as crianças estabelecem e desenvolvem relações com a equipe de saúde, com os acompanhantes e com os pares, assim como convivem com regras e rotinas. Mediante essa relação com o hospital, as crianças utilizam-se do seu espaço para o envolvimento em brincadeiras, mantendo a atividade principal da infância e modificando o ambiente rígido através da reinvenção criativa do instituído. Considerando esses aspectos, o presente trabalho teve por objetivo analisar como as crianças constroem zonas lúdicas, através das brincadeiras espontâneas, transformando o espaço, o tempo e as rotinas hospitalares. Para isso, foram observados os comportamentos lúdicos de 18 crianças, com idades de seis a 12 anos, internadas em um hospital localizado em Salvador-Ba. Os registros foram feitos no ambiente da enfermaria e/ou da brinquedoteca em sessões de 30 minutos, resultando 23 registros observacionais. Aliada à observação, foi realizada também uma entrevista mediada por um desenho com as crianças, que possuía a seguinte questão disparadora: “Desenhe o lugar que você mais gosta de brincar aqui no hospital”. Os dados foram desenvolvidos em três seções: Brincando na enfermaria, Brincando na brinquedoteca e Contações sobre os lugares de crianças no hospital, no intuito de destacar as especificidades de cada espaço, bem como a da entrevista. Os resultados mostraram que há diferenças conforme o contexto no qual as crianças estão localizadas. Na enfermaria, foi identificado o imperativo do “Não Pode” e, na brinquedoteca, o imperativo do “Brinque”, o que interferiu diretamente na construção das zonas lúdicas pelas crianças. Sendo assim, no primeiro espaço, as brincadeiras tenderam a se limitar ao ambiente dos quartos enquanto que, no segundo, invadiram o corredor, extrapolando a área delimitada da brinquedoteca. Ao brincar, as crianças envolveram-se prioritariamente em atividades com parceria em detrimento de ações solitárias, tendo sido significativa a interação com adultos, e não apresentaram preferências de acordo com o gênero e a idade. Notou-se ainda que os grupos de brincadeiras formados foram majoritariamente heterogêneos, revelando uma baixa segregação entre as crianças hospitalizadas. Verificou-se também que as brincadeiras não tiveram associação direta com a situação de adoecimento e tratamento, contudo, mostraram-se sensíveis à realidade hospitalar. Na entrevista, a brinquedoteca apareceu como o lugar preferido das crianças para brincar no hospital, especialmente em decorrência dos brinquedos disponíveis na mesma, o que demarca a diferença qualitativa desse lugar em comparação aos outros espaços da instituição. A partir disso, constata-se a atratividade da brinquedoteca entre as crianças, sendo considerado benéfico à inclusão da mesma na rotina institucional além do frequente cuidado à doença. Apesar da vivência hospitalar, percebeu-se que as crianças não limitaram a sua existência enquanto brincantes, elas envolveram-se ativamente na construção das suas brincadeiras e zonas lúdicas, adequando-se à realidade contextual, mas também rompendo com a tradição disciplinar da instituição. Dessa forma, este estudo aponta para o protagonismo das crianças, mesmo diante de uma condição de enfermidade, protagonismo esse que a retira do lugar de objeto de cuidados e a coloca enquanto sujeito de desejo e criação.