Fábrica de lesionados/as! Fábrica de inválidos/as? Trabalho, gênero e trajetórias de incapacitação entre trabalhadores/as da indústria automotiva da Bahia.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Saldanha, Jorge Henrique Santos lattes
Orientador(a): Iriart, Jorge Alberto Bernstein
Banca de defesa: Esperidião, Monique Azevedo, Torrente, Mônica de Oliveira Nunes de, Jesus, Selma Cristina Silva de, Neves, Robson da Fonseca, Lima, Monica Angelim Gomes de
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Bahia. Instituto de Saúde Coletiva
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC-ISC)
Departamento: Instituto de Saúde Coletiva - ISC
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/41179
Resumo: Em condições adversas, o trabalho pode gerar adoecimento e graves consequências, dentre elas a incapacidade para o trabalho. Incapacidade para o trabalho pode ser definida como a situação em que um trabalhador não é capaz de se manter ou retornar ao trabalho por causa de uma lesão ou doença. Vários são os determinantes que podem influenciar o processo de afastamento e retorno ao trabalho. Este estudo buscou compreender, sob uma perspectiva de gênero, as experiências e as trajetórias de incapacitação para o trabalho de trabalhadores e trabalhadoras da indústria automotiva. Essa é uma pesquisa qualitativa, desenhada na perspectiva de um Estudo de Caso Ampliado. A produção de dados contou com uma metassíntese de estudos qualitativos, análise documental e de bancos de dados públicos de interesse; e um trabalho de campo etnográfico, que envolveu observação participante, entrevistas com homens e mulheres trabalhadores da indústria automotiva da região metropolitana de Salvador que vivenciaram experiências de incapacitação para o trabalho, bem como entrevistas com agentes interessados sobre o problema do adoecimento relacionado ao trabalho e da incapacidade para o trabalho na indústria automotiva;A análise dos dados apoiou-se na perspectiva teórica da ciência reflexiva de Burawoy e da sociologia reflexiva de Bourdieu. Os resultados da pesquisa estão apresentados nessa tese em 4 capítulos: O capítulo 1 é uma metassíntese de estudos qualitativos que investigaram as relações entre gênero e incapacidade no período entre 2008 e 2018; O capítulo 2 aborda as trajetórias de entrada na fábrica, a incorporação de disposições para o trabalho na indústria metalúrgica e o processo de se constituir como parte de uma classe em construção e as estratégias de permanência no trabalho. Os resultados deste capítulo buscam explicar como o Gênero medeia esse processo e como diferenças e desigualdades de gênero se expressam; O capítulo 3 apresenta o surgimento do fenômeno do adoecimento relacionado ao trabalho, os dados disponíveis sobre o adoecimento no setor automotivo, os diferentes pontos de vista sobre esse problema, a interseção do gênero na construção da visão sobre o problema e as ações desenvolvidas em torno dessa questão; O capítulo apresenta os achados que se relacionam com a ruptura nas trajetórias dos agentes a partir do marco da incapacidade para o trabalho, mostrando como o adoecimento representa um momento de ruptura com a mobilidade operária e com o pertencimento a uma classe em formação. Aborda ainda como as tensões “Trabalho versus Família” mostram-se como determinantes na decisão de afastar-se do trabalho e evidencia as tomadas de decisão da gestão da força de trabalho na relação com trabalhadores/as com incapacidade. Esse capítulo expõe como trabalhadoras e trabalhadores tomam as decisões de Retorno ao Trabalho, buscando analisar como se dão as interações entre os sistemas de Trabalho, Saúde e Previdência no processo de legitimação do adoecimento, especificamente entre as mulheres. Os resultados sistematizados nesse estudo evidenciam que Gênero é uma importante categoria a ser levada em consideração para a compreensão dos processos de incapacidade para o trabalho, pois as relações de gênero medeiam as trajetórias de trabalhadores/as desde o processo de entrada na fábrica, incorporação de disposições para o trabalho, manutenção dos postos de trabalho e ascensão profissional, bem como nas trajetórias de ruptura com o trabalho devido ao adoecimento. As experiências de incapacidade são marcadas por mediações dos processos de divisão sexual do trabalho na indústria e dos papéis sociais de gênero esperados de homens e mulheres. Gênero também é utilizado na disputa de modelos explicativos do adoecimento na indústria automotiva por diferentes campos envolvidos. Mulheres vivenciam maior dificuldade em legitimar seu adoecimento e incapacidade para o trabalho, bem como maiores dificuldades para retornar ao trabalho, devido a uma interação dos sistemas de Trabalho, Saúde e Previdência que reproduzem desigualdades de gênero.