Etnoecologia da pesca: um caminho para a conservação socioambiental em unidades de conservação

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Cunha, Fabiana Calacina da
Outros Autores: http://lattes.cnpq.br/6355802065018414
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Amazonas
Faculdade de Ciências Agrárias
Brasil
UFAM
Programa de Pós-graduação em Ciências Pesqueiras nos Trópicos
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/7302
Resumo: A conservação e o uso sustentável dos recursos pesqueiros requerem conhecimentos sobre as espécies e como as populações locais utilizam o pescado disponível. Porém, é nítida a existência de lacunas de informações sobre a pesca e sobre a bioecologia dos peixes capturados. Este cenário é particularmente preocupante quando se trata de Unidades de Conservação de Uso Sustentável, pois informações importantes para nortear a gestão ainda são escassas. Nesse contexto, esta tese investigou a pesca e os saberes dos pescadores a partir de uma abordagem etnoecológica em duas áreas protegidas no estado do Amapá, em Unidades de Conservação (UCs) de Uso Sustentável, a Floresta Nacional do Amapá (FLONA do Amapá) e Floresta Estadual do Amapá (FLOTA do Amapá, trecho III), e em áreas desprotegidas localizadas próximas a essas UCs. Foram realizadas entrevistas, observação participante e pesquisa documental (dados de pesca da Colônia Z-16). Os pescadores que atuam dentro de UCs e fora delas utilizam critérios morfológicos e ecológicos para identificar e nomear os peixes. Além disso, utilizam parâmetros morfológicos para diferenciar machos e fêmeas. Os peixes capturados são consumidos e comercializados, mas poucos são utilizados para fins medicinais. Os pescadores possuem restrições (tabus) relacionadas a peixes lisos/de couro e peixes reimosos. Os peixes preferidos estão entre os mais capturados, com destaque para o trairão (Hoplias aimara) que apresentou maior valor de uso. No entanto, o reconhecimento pelos próprios pescadores da redução das quantidades capturadas do trairão (H. aimara) nos locais de pesca, reforça a necessidade de medidas voltadas para a conservação desta espécie na área estudada. Os períodos de “inverno” e “verão” e a observação do ciclo hidrológico permitem a escolha adequada dos locais de pesca, apetrechos e dos peixes que desejam capturar, permitindo também compreender aspectos comportamentais de reprodução, alimentação e migração de peixes. Sobre a reprodução, os pescadores apresentaram conhecimentos sobre o período de reprodução de vários peixes e descreveram os locais de desova. As informações sobre a reprodução do Conhecimento Ecológico Local (CEL) concordaram parcialmente com a literatura científica. O CEL dos pescadores e os dados científicos para a reprodução do trairão (H. aimara) sugerem a adequação do período de defeso para esta espécie. O CEL sobre a reprodução dos peixes pode contribuir para ampliar a proteção de espécies que tem grande demanda local. Além disso, os pescadores conhecem os tipos de alimentos que fazem parte da dieta dos peixes, identificando variações sazonais e descrevem os movimentos migratórios laterais e longitudinais, no inverno e verão, entre os principais ambientes dos rios Araguari e Amapari. O “baixão” (floresta inundada) foi um dos habitats mais citados, e por isso considerado como importante local de proteção, área de alimentação e reprodução de vários peixes. Isso indica que tanto fora quanto dentro das UCs essas áreas devem ser cuidadosamente monitoradas. O entendimento sobre a atividade pesqueira dentro e fora de áreas protegidas é fundamental para melhorar as ações de manejo em UCs. E, os resultados encontrados sugerem a adoção de medidas para a manutenção dos efeitos das áreas protegidas na conservação do recurso pesqueiro, tais como a definição de cotas de captura e redução do uso de malhadeiras. Além disso, devem-se priorizar projetos para a diversificação de fontes renda, visando reduzir a pressão pesqueira no interior das UCs. Por fim, o monitoramento da atividade de pesca é imprescindível para avaliar essas medidas, pois se sabe que há uma intensa atividade pesqueira ocorrendo no interior das UCs.