Propriedades anti-inflamatórias e potencial para fitoterapia da espécie vegetal, de uso tradicional da região amazônica, Bellucia dichotoma

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Batista, Luana Travassos
Outros Autores: http://lattes.cnpq.br/8948602466117062
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Amazonas
Instituto de Ciências Biológicas
Brasil
UFAM
Programa de Pós-graduação em Imunologia Básica e Aplicada
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/9165
Resumo: Para a serpente Bothrops atrox é atribuída a maioria dos acidentes ofídicos na região Norte do Brasil e seu envenenamento se caracteriza por lesões locais intensas, distúrbios hemostáticos e inflamação relevante. Em algumas regiões do país onde o atendimento dos acidentados por serpentes é precário, as plantas medicinais têm se apresentado como alternativa de tratamento ou como coadjuvante à soroterapia. Este trabalho teve por objetivo avaliar o potencial anti- inflamatório de Bellucia dichotoma, espécie vegetal nativa da região Amazônica, que é utilizada na medicina tradicional para tratar envenenamentos por serpentes, para o desenvolvimento de um fitoterápico com propriedades antiofídicas. O extrato seco de B. dichotoma foi avaliado para as seguintes atividades in vitro: citotoxicidade e bloqueio na atividade inflamatória induzida pelo veneno de B. atrox em macrófagos diferenciados de células de linhagem leucêmica imortalizadas – THP-1– pela quantificação de citocinas, produção espécies reativas (ROS) e expressão de COX, e avaliação do potencial de cicatrização pelo ensaio de motilidade celular em células fibroblastos humano da linhagem MRC-5. Foi realizado o ensaio de toxicidade aguda via oral do extrato de B. dichotoma, em ratos Wistar, para avaliar a segurança farmacológica da espécie e emprego em formulações fitoterápicas. Uma forma farmacêutica sólida oral do tipo granulado efervescente foi desenvolvida, avaliada quanto a estabilidade térmica e caracterização físico-química, e testada quanto a seu potencial anti-inflamatório em edema de pata induzido pela peçonha de B. atrox, sendo a produção do extrato e o ensaio biológico realizados de modo similar ao uso tradicional. Os resultados mostraram que a viabilidade celular em células THP-1 do extrato seco de B. dichotoma foi de aproximadamente 100% até a concentração 50μg/ mL, porém a concentração capaz de causar a morte da mesma proporção de células está acima de 1000μg/ mL. Na análise citotóxica de veneno de B. atrox a dose 1000μg/ mL capaz de causar 100% da morte celular e a IC50 de 527,8 μg/mL determinada por curva log. A partir desses resultados, foi realizado os ensaios de atividade de bloqueio da resposta inflamatória induzida pelo veneno de B. atrox na dose 527,8 μg/mL em macrófagos THP-1. Os resultados mostraram que, os macrófagos desafiados com veneno de B. atrox tiveram aumento na produção da citocina pró-inflamatória TNF- e da citocina IL-12p70, e que quando tratados com extrato de B. dichotoma apresentaram redução na produção dessas citocinas. O extrato de B. dichotoma apresentou efeito antioxidante dose dependente, ao reduzir o estresse oxidativo induzido por veneno de B. atrox em macrófagos THP-1. O veneno de B. atrox não induziu a produção de COX na linhagem de células THP-1 utilizada, não sendo possível avaliar o potencial de bloqueio de B. dichotoma na via de produção de mediadores lipídicos. Quando avaliado o potencial de cicatrização de B. dichotoma, no ensaio com MRC-5, as células tratadas com o extrato vegetal nas doses 1 e 5 μg/mL apresentaram migração celular até 20% mais eficaz que o controle positivo Vitamina C, usada como padrão ouro. Na caracterização térmica, observou-se a estabilidade térmica do extrato seco, apresentando apenas dois eventos de perda de massa, nos intervalos 25-105ºC (Δm=4,68%) e 239- 318ºC (Δm=19,06%). A partir do ensaio de toxicidade aguda não foram observados sinais de toxicidade do extrato de B. dichotoma até a dose de 2000 mg/Kg, que corresponde a duas vezes a dose recomendada pela ANVISA para avaliar toxicidade de substâncias. A partir dos resultados prévios, foi desenvolvido um granulado efervescente à base do extrato de B. dichotoma. No que diz respeito aos granulados, a formulação que apresentou melhores características organolépticas e de efervescência foi utilizada para avaliar o efeito bloqueador da ação edematogênica de Bellucia dichotoma. O lote de bancada com peso final de 4 gramas e 7,25% de extrato seco de B. dichotoma obtido utilizando o processo molhagem por malaxagem apresentou boa eferveascência, sem formação de grumos, quando efervescido em 60 mL de água destilada. Os resultados do ensaio antiedematogênico mostraram que o granulado na concentração de 566,6 mg/kg foi tão eficaz quanto o controle positivo, o soro antibotrópico (SAB), em reverter 7 o edema induzido pelo veneno de B. atrox, em pata de camundongo. Dessa forma, foi evidenciado a capacidade da espécie Bellucia dichotoma em bloquear efeitos inflamatórios induzidos pelo veneno da serpente Bothrops atrox e o potencial fitoterápico dessa espécie vegetal. Estes achados são de grande relevância para a população local da região Amazônica, que utilizam Bellucia dichotoma como recurso terapêutico alternativo ou complementar ao soro que, embora seja o tratamento padrão, apresenta limitações quanto a administração e em reverter efeitos locais graves induzidos pelo veneno.