Saberes e práticas tradicionais: as condições do trabalho nos estaleiros navais à beira-rio da cidade de Manaus

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Silva, Jefferson Gil da Rocha
Outros Autores: http://lattes.cnpq.br/6109659486630632
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Amazonas
Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais
Brasil
UFAM
Programa de Pós-graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/6343
Resumo: À beira-rio da cidade de Manaus abrange desde a foz do rio Tarumã até o rio Puraquequara. Num percurso de 43km de extensão. Às margens esquerdas do rio Negro, encontram-se o bairro do São Raimundo que na década de 1980 recebeu vários estaleiros tradicionais vindos de outros bairros. Nesta tese, centramos nosso olhar sobre os saberes e práticas tradicionais e as condições do trabalho nos estaleiros navais à beira-rio da cidade de Manaus, no bairro do São Raimundo, zona Oeste. Os desafios postos esse estudo teve como norte as seguintes questões: Como os carpinteiros navais dos estaleiros Jaime Dias, São Raimundo e São Jorge veem a precarização do trabalho à beira-rio de Manaus? Como se deu o processo histórico e transmissão desses saberes na construção de barcos? Qual o futuro desses sujeitos na construção naval à beira-rio do São Raimundo diante da precarização? Como contextualizar, historicamente, a fabricação de embarcações na Amazônia, especificamente em Manaus? Qual o papel dos outros trabalhadores como calafates na história da construção naval de madeira? Os instrumentos metodológicos foram importantes em todas as fases desse estudo devido às questões complexas que necessariamente impõe articulações e diálogos entre os ramos da ciência que precisaram ser conectados e interligados para se chegar a uma resposta que permitisse entender essa realidade sobre o trabalho naval à beira-rio na Amazônia. Tecer uma visão articulada, interdisciplinar nos permitiram evidenciar as condições do trabalho precarizadas dos trabalhadores navais que atuam nos estaleiros tradicionais Jaime Dias, São Raimundo e São Jorge, todos localizados no bairro do São Raimundo, zona Oeste da cidade de Manaus. A construção do saber é por natureza interdisciplinar, pois mobiliza em diferentes graus de intensidade os diversos campos do conhecimento, nos permitindo, de forma mais real e dinâmica, conhecer a complexidade desse estudo. Recorremos a Thompson (1987) sobre a construção da história vista de baixo, empregamos o conceito de memória em Halbwachs (1990) e Bosi (1993), em Adorno e Horkheimer (1985) e Marcuse (1964) – exploramos o conceito de “fetiche” da autonomia, do lucro e da falsa liberdade que esconde sua identidade em relação à sua produção, em Dejours (2003) e Weil (1979) exploramos a relação sofrimento e prazer não só nas narrativas dadas pelos sujeitos, mas também na vivência cotidiana, nos mostraram algumas características do homem amazônico, além de outros autores. Por este caminho ou percurso teórico recorreu-se a abordagem qualitativa, onde os sujeitos da pesquisa foram compostos por: 04 carpinteiros navais, 04 calafates e mais 05 trabalhadores entre várias modalidades: pintor, mecânico de motor, marceneiro, eletricista, soldador, encanador e entre outros que prestam serviços aos pequenos estaleiros citados. A partir das narrativas desses trabalhadores navais pudemos conhecemos as condições do trabalho, o saber cultural sobre a atividade de produção e reparação de barcos ainda atuante à beira-rio da cidade. Percebemos a memória do lugar, sobre sua arte e ofício que nos possibilitou a compreensão de uma realidade social ainda ocultada, mas mesmo assim viva e presente. Um dos sujeitos centrais da pesquisa foi o carpinteiro naval, por proporcionar informações sobre o saber-fazer que emerge das práticas cotidianas. O homem amazônico, portador de um conhecimento tradicional se insere na história da região como construtor das águas, capaz de construir embarcações singulares. Trazem em seu interior a marca de uma tradição secular, carregam em sua história uma face do trabalho da região Amazônica. O trabalho precário é uma constante, o que faz com que possam ocorrer acidentes iminentes pela falta de infraestrutura ou pelo cansaço devido a longas jornadas de trabalho. Pensar em desenvolvimento local perpassa, antes de tudo, em um esforço em encontrar mecanismos que associem o saber tradicional (onde reside à riqueza e criatividade), de práticas produtivas tradicionais, caracterizadas pelo saber do homem. Entender o processo de trabalho à beira-rio nos permitiu perceber a face do trabalho subjacente do homem amazônico, da reificação e do desaparecimento simbólico de indivíduos às margens à beira-rio com profissões que não exigem qualificação técnica, mas um enorme cabedal de conhecimento empírico na arte da construção naval, sendo essencial para o mundo do trabalho nos estaleiros de tradicionais à beira-rio da Amazônia.