Neká Mahsá (gente-estrela): Um Estudo de Vivências do Calendário Desâna no Tupé

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2012
Autor(a) principal: Belota, Juliana Mitoso
Outros Autores: http://lattes.cnpq.br/6601256431600844
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Amazonas
Instituto de Ciências Humanas e Letras
Brasil
UFAM
Programa de Pós-Graduação em Sociologia
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://tede.ufam.edu.br/handle/tede/3924
Resumo: O presente trabalho centra-se na discussão do Calendário Astronômico Desâna e em sua (re) significação no âmbito do turismo e da etnoconservação na comunidade Desâna do Tupé, lócus da pesquisa. O objetivo inicial da investigação foi fazer uma análise dos aspectos da mitologia contidos nas vivências Desâna, no Tupé. Partimos das narrativas do livro, publicado pelo ISA, Bueri Kãdiri Marirye “Os ensinamentos que não se esquecem” (DIAKURU&KÍSIBI, 2006) para a análise dos elementos cosmogônicos presentes no calendário demonstrativo Desâna do Tupé. A pluralidade empírica do tema fez com que estendessemos a análise à identificação não só dos elementos do calendário mítico, contidos no pacote turístico oferecido ao público, na RDS do Tupé, mas à função social do xamanismo Desâna, onde ele sobrevive aos modos do turismo globalizado. A observância da dinâmica ambiental alterada pelo fator mudança, tanto a ocasionada pela mobilidade territorial do alto para o baixo rio Negro, como a ocasionada pelas mudanças climáticas, as quais são observadas na região, foi algo a que, de um modo transversal, nos dedicamos no entendimento dos significados do uso deste calendário entre este grupo. Do ponto de vista do processo de ruptura e expropriação da sua cultura, na lida com atividades exógenas à sua tradição, a análise do retorno à casa-de-reza - focada nos aspectos xamânicos das vivências tradicionais – resulta, em nossa hipótese, na afirmação de um campo de reterritorialidade reconhecido pelos Desâna. A aproximação com os elementos que guardam a memória da tradição - mitos e hierofanias presentes nos modos-de-fazer que transitam do conhecimento anterior às gerações, aos modos modernos-contemporâneos do saber-fazer Desâna, no Tupé - nos levaram às estruturas que são o caminho percorrido até o entendimento da memória como sistema de adaptação para o grupo. Sistemas a partir dos quais se apropriam da tradição, de um modo diferenciado, para seu desenvolvimento local e estabelecimento como etnia culturalmente diferenciada do rio Negro, em contexto semiurbano, no entorno da cidade de Manaus. Neste caminho, da memória, encontramos o calendário, na “borda”[1] da própria cultura. Jerusa Pires Ferreira (2010) define o termo como “desenho de contornos” por onde, a meu ver, os Desâna, no Tupé, passam e perpassam, “num fluir de dentro e fora da cultura”. Este entrecruzar de contornos e saberes foi nosso objeto de análise. O grupo, liderado pelo Kísibi- Kʉmʉ Desâna, Raimundo Fontes Vaz, é descendente do grupo de avós citados por Diakuru & Kísibi (2006), o sib Wahari Dihputiro Porã[2], do igarapé Urucu, afluente do rio Tiquié. Nossa abordagem foi qualitativa e recorreu a entrevistas estruturadas e semiestruturadas, no propósito de conhecer os diversos aspectos da cultura Desâna que transitam em suas vias de sobrevivência atuais. Nossa hipótese é de que os Desâna, no Tupé, mantém uma relação de sacralidade com a memória mítica-ritual tradicional do seu calendário astronômico e que são capazes de descrever as relações simbólicas e cosmológicas associadas a ele, o que nos permite analisar a polaridade moderno-tradicional, nesta vivência.