Puxar sacola : significados sociais das visitas em prisões femininas.
Ano de defesa: | 2019 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Tese |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico::Instituto de Medicina Social BR UERJ Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/4512 |
Resumo: | Com o objetivo de compreender os significados sociais atribuídos à visita em estabelecimentos penais nos quais se encontram mulheres privadas de liberdade, conduzi uma etnografia com parentes das mesmas e comerciantes locais na região Sul do Brasil entre os anos de 2017 e 2018. A literatura científica nacional oferece alguns elementos teóricos e metodológicos para abordar o fenômeno do encarceramento feminino, como é o caso da análise regular segundo a qual se trata de um abandono das reclusas cumprindo sua pena privativa de liberdade em regime fechado. Ademais, os estudos nacionais priorizam investigações de visitas femininas em unidades prisionais masculinas. Na presente tese, eu procuro examinar o fenômeno a partir de interlocutores e cenários ainda pouco explorados visitantes em cárcere que abrigam apenas mulheres. Ao longo de quase um semestre frequentei filas de espera e comércios nos entornos de duas prisões femininas, que possuem funcionamentos e organizações próprios e divergentes. Nesses locais, conversei com mais de centena de pessoas aguardando serem chamadas por agentes penitenciárias, principalmente mães, como também companheiros (as), irmãs (os), filhos (as), pais, tias e madrastas e cunhados (as) das mulheres presas. Não é um grupo homogêneo, nem em sua composição, tampouco em suas biografias. A observação participante nesses espaços me possibilitou presenciar cenas de conflito e colaboração, bem como ouvir razões pelas quais mulheres privadas de liberdade eram visitadas. Entrevistas semiestruturadas com visitantes se somaram a essas cenas, do mesmo modo como conversas informais com comerciantes, favorecendo a emergência de uma variedade de significados atribuídos à visita em prisões femininas, no interior dos quais trocas materiais e simbólicas se destacam. A íntima correspondência entre a visita e o transporte de insumo, chamado de sacola , faz com que a grande maioria dos meus interlocutores entenda que levar bens para o interior da prisão é, antes de tudo, uma obrigação moral. A sacola gera custos, deve ser vigiada, pode levar contaminação e até mesmo ser ilegal, neste caso produzindo a pena privativa de liberdade de quem transporta materiais para a prisão. Ao mesmo tempo, esse insumo suscita apoio entre os visitantes e o viabiliza entre privadas de liberdade, deve tornar a vida destas mais suportável e assim, potencialmente, purificar o cotidiano prisional, articulando bens neste cenário precário. A sacola, portanto, materializa todas as contradições e tensões que observo em campo. Como os próprios visitantes resumem, puxar sacola é visitar. |