Teatros da modernidade: representações de cidade e escola primária no Rio de Janeiro e em Buenos Aires nos anos 1920

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2009
Autor(a) principal: Silva, José Cláudio Sooma
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação e Humanidades::Faculdade de Educação
BR
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Educação
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/10482
Resumo: A pesquisa se interessa pelas diferentes representações de ensino primário e de cidade que foram construídas em função do entrelaçamento dos ambientes urbanos com os escolares durante os anos 1920. Baseada na análise de periódicos, legislação educacional e medidas de reforma da antiga capital do Brasil e da capital da Argentina, problematiza as dimensões de governo nos planos da cidade e da educação. A aceleração dos tempos e o crescimento urbano das duas primeiras décadas do século XX trouxeram consigo a necessidade de articular iniciativas diversas que racionalizassem o desenho arquitetônico e organizassem os comportamentos e tradições da população carioca. Foi em função dessas características que ocorreu no período o entrelaçamento da ciência do urbanismo com os saberes e práticas proporcionados pela escola primária. Nesse sentido, sob a lógica governamental, Escola e Cidade passaram a ser concebidas de modo articulado, tendo em vista um repertório comum de estratégias, porque se ansiava converter a Cidade em um espaço educativo e a Escola em um dispositivo para incutir ideais de urbanidade e de higiene pública. Com o objetivo de concretizar essa conversão da Cidade e da Escola, ocorreu uma efetiva invasão das circunstâncias citadinas sobre os tempos e espaços escolares, bem como uma impregnação destes sobre a cidade. Projetou-se para a educação primária a tarefa de explicar as transformações urbanas, de modo que estas fossem aceitas e passassem a ser valorizadas. De maneira correlata, investiu-se na dimensão educativa que a organização e harmonização dos componentes da paisagem urbana carioca deveriam desempenhar. Tais preocupações concorreram para que algumas estratégias fossem mobilizadas pela Prefeitura e a Diretoria Geral de Instrução Pública, almejando ensinar à população as formas corretas de praticar a cidade. Dentre estas, grande atenção foi dispensada aos espetáculos educacionais protagonizados pelas crianças. Os efeitos desses acontecimentos não se encerravam nas encenações. As ações que antecediam os referidos espetáculos se caracterizavam, igualmente, como oportunidades que convidavam a população a visualizar, refletir e tecer comentários sobre os ideais de harmonia, higiene e disciplinarização que impulsionavam a realização desses eventos que invadiam a cidade com uma freqüência regular e uma forma própria. A relevância adquirida por esses espetáculos educacionais em terras cariocas instigou-me a pensar uma possível circulação dessa modalidade de inculcar hábitos e comportamentos entre as crianças e adultos em um contexto sul-americano, considerando preocupações educacionais relativas ao ensino primário associadas ao movimento de remodelação urbana entre finais do século XIX e as primeiras décadas do XX. Desse modo, essa preocupação funcionou como chave de entrada para pensar aproximações e distanciamentos entre os espetáculos educacionais nas cidades do Rio de Janeiro e de Buenos Aires. O caminho trilhado por este estudo possibilitou apontar, no caso carioca, para um redimensionamento na concepção de modernidade no decurso do período analisado. Se até os anos 1920 o foco estivera nas obras públicas de modernização , a partir de então se deslocava para a necessidade de racionalização da cidade e para a inculcação de atitudes de modernidade na população. No caso portenho, a partir de finais do século XIX, os projetos de intervenção pública foram pautados na grilla e no parque , o que significou um esforço de pensar um planejamento global para a capital. A virada para a década de 1920, por sua vez, foi marcada pela elaboração de um novo Plano Regulador , voltado para conter os avanços do subúrbio e atenuar as incoerências advindas do fluxo intenso de veículos e pedestres. Com a perspectiva de inculcar atitudes de modernidade e o desígnio de conter os avanços do subúrbio e de harmonizar o fluxo de automotores e pedestres, as atenções, nas duas capitais, se voltaram para a educação primária. Nas experiências estudadas, as intervenções na cidade e na escola primária foram compreendidas como condição para despertar, exigir e avaliar um conjunto de comportamentos concebido como indispensável para a multiplicação de condutas e hábitos adequados à modernidade desejada.