Do corpo colonizado ao corpo humanizado: trajetórias e percepções acerca do cuidado perinatal e agência feminina negra

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Santos, Ariana de Souza Rodrigues dos
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico::Instituto de Medicina Social
Brasil
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/17675
Resumo: O tráfico transatlântico de seres humanos, e posteriormente a escravização de povos originários da África, foram responsáveis por estabelecer um sistema de hierarquização, em que pessoas de pele negra seriam inferiorizadas diante de pessoas de pele branca. Dentre os escravizados, destacamos a figura da mulher preta. O corpo feminino negro além de carregar consigo os estigmas da inferioridade da raça, teve seu ventre usado como ferramenta de continuidade do sistema de exploração. Mesmo após a abolição no país, a lógica colonial garantiu a perpetuação da desumanização, humilhação e submissão dessas mulheres. Refletir sobre os estigmas e representações do corpo feminino negro nos fez compreender melhor as estruturas e políticas eugenistas sobre as quais foi construído o cuidado perinatal da mulher negra, que ainda é marcado por inúmeras iniquidades. Partindo do pressuposto de que os negros também foram capazes de questionar, se organizar e gerar transformações no tipo de cuidado em saúde dispensado às mulheres, concentrei-me na categoria “agência feminina negra” e busquei estabelecer um diálogo a partir da perspectiva da Interseccionalidade. A fonte empírica da pesquisa foram seis entrevistas realizadas nos moldes do procedimento de histórias de vida junto a mulheres negras que, através de sua agência individual ou de sua inserção em processos de mudança coletiva, fortalecem e promovem transformações no cuidado perinatal na região do estado do Rio de janeiro bem como no âmbito federal em alguns casos. Através de suas narrativas procurei identificar como ocorrem as transformações no sistema de saúde em uma esfera macro ou micro social, com ênfase no cuidado das mulheres negras. A análise permitiu perceber que as violências provocadas pelo sexismo e atravessadas por outras formas de opressão marcam a história de muitas interlocutoras. Assim, para questionarem um sistema que lhes foi apresentado como único e imutável, foram necessárias articulações e elaborações de estratégias de agência. Esta constante negociação em meio às relações de poder, mostraram-se como um modus operandi da maioria das mulheres negras, nos levando à reflexão de que a restituição social de nossa humanidade exige um olhar interseccional e não hierarquizante sobre as avenidas identitárias que atravessam o corpo negro e que ditarão o percurso das relações entre essa mulher e o mundo. O despertar da agência feminina negra se inicia a partir de sua libertação mental, mas também será atravessado e influenciado pela capacidade de reconhecimento e valorização de sua ancestralidade, bem como o aprimoramento dos saberes compartilhados; a emancipação pautada na estruturação de sua inteligência emocional e competência intelectual; além da negação do sujeito universal para o pleno reconhecimento do seu direito a ocupar o “lugar da humanidade” seja ele físico ou social. Tais elaborações permitirão, que as mulheres negras possam reconhecer-se sujeitos políticos, estabelecendo negociações que reagem à lógica que as oprime, ao mesmo tempo em que geram transformações políticas e sociais, que promovam uma verdadeira democracia social, econômica, cultural e racial.